Diário de Bordo XXXV - Esconderijos do Tempo em Três Coroas

UM ESPETÁCULO PARA A VIDA TODA


Quando um grupo de teatro do interior é convidado à encerrar um festival de teatro do estado deve sentir-se muito honrado, afinal, começou sua caminhada participando dos festivais, aprendendo com os jurados e grupos que alí estavam. Essa foi a realidade do máschara que começou sua trajetória em 1992 participando do festival de Montenegro, organizado na época pela FETARGS, a cada ano, os atores do Máschara  foram se aprofundando, anotando tudo o que os jurados falavam, debatendo os outros trabalhos que assistiam nos festivais, querendo com toda sua garra crescer, aprender, tornar-se bom no que faziam. Hoje, não por exibicionismo ou prepotência, mas por merecimento, seus trabalhos são dignos de abrir ou encerrar um festival de teatro, e alí serão vislumbrados por atores, pelo público teatral que aproveitará aquele breve momento artístico para desenvolver ainda mais seu olhar artístico.
O Grupo Máschara chegou em Três Coroas após seis horas de viagem, na bagagem um espetáculo com cinco anos de historia e a vontade de encher os olhos da assistência, sim essa deve ser a função dos artistas, querer ser bom, querer causar algo na patéia, não vejo nada de mal em artistas serem exibidos, é o que o público espera deles.
No festival velhos conhecidos: Jaqueline Pinzon, que em 2001 deu assistência ao espetáculo Tartufo do Máschara; a Cia. do Carvão, com a Mônica Pinhatti e o Luciano(não me recordo seu sobrenome) velhos amigos, da 'Pipocas de Papiro'; Paulo Rezendes, de Jó e Diário de um Louco; Paulo Mello, do festival de Uruguaiana; Pessoal de Osório, (O rocambole); Juliano Cannal, de Capão da Canoa; Alguns amigos de Santo Angelo; Mauro, Ida, Sandra, enfim, todos velhos conhecidos que fazem parte da historia do teatro gaúcho.
O teatro de Três Coroas é lindo, invejável e o festival organizado pela bela Carine Setti, sempre tão gentil e tão disposta a fazer o melhor pelo festival. Um palco maravilhoso, grande, com material de primeira, (pena o tempo ser tão curto para não poder fazer algo mehor com a iluminação), camarins espaçosos com suco e biscoitos esperando os atores. Um arrojo!
O cenário foi erguido como de costume, com discuções breves sobre a melhor disposição dos adereços e marcas. O teatro é assim, adapta-se a cada novo espaço. Everton da luz e Carcará, foram incríveis, não mediram esforços para fazer o melhor, pena o pouco número de gelatinas. Mas nada que prejudicasse o trabalho.
Casa cheia, alguns aquéns nas coxias antes do inicio do espetáculo, mas compreensível, dia de encerramento de festival, uma correria para fazer o melhor. Uma queda de luz rápida causada pelo dedinho metido de "Mario Quintana" e que a Anfitriã soube contornar com elouquência viváz.

Durante quase uma hora desenrolou-se o drama Esconderijos do Tempo, emocionando artistas e pessoas da comunidade. Cléber Lorenzoni envelhecendo sem recurso algum, apenas um óculos, uma bengala e um chapéu, manuzeados alí mesmo, frente aos olhos ávidos da platéia. Angélica Ertel mais poética, Tatiana Quadros de volta aos palcos depois de longa temporada, maravilhosa como sempre, Gabriel Wink aprofundando o humor em seu Gouvarinho, uma energia forte da platéia na hora em que Dulce Jorge entra em cena com a Glorinha idosa. Na sonoplasia alguns aquéns de Alessandra Souza quase puseram em perigo os silêncios tão necessários do espetácuo. Iluminação perfeita de Ricardo Fenner. Encontros e desencontros naquela estilizada praça no fim da rua da praia de Porto Alegre, onde Mario Quintana recebia a todos como se fossem visitantes de sua casa, de sua Porto Alegre. Malaquias e a morte despedindo Mario para entrar para a eternidade e finalmente o "se roubei, se roubei teu coração..." no proscenio, encerrando sob palmas carregadas um dos mais lindos espetáculos de poesia que já tive o prazer de assistir.
Emcionante ver os grupos "cô-irmãos" como disse Cléber Lorenzoni, aplaudindo emocionados Esconderijos do Tempo.
Após o espetáculo, a premiação, distribuição de louros, não aos melhores, mas aos mais marcantes daquela ocasião. O teatro é uma arte viva, pulsante, não existem melhores ou piores, existe o momento, e a emoção expontânea. Nenhum dia é igual ao outro! No camarim ainda estiveram Ida Celina, uma das "madrinhas" do Máschara, que não continha as lágrimas e encheu de doces elogios o elenco, Sandra Loureiro, matando a saudade e mencionando o trabalho do ator que lhe lembrava demais Mario Quintana que conhecera pessoalmente anos antes, e Juliano Canal que não podería deixar de cumprimentar os amigos de tempos.
O Máschara ainda despediu-se de Três Coroas com um agradável jantar no restaurante Esperança e depois de seis horas de viagem com mais um dia de dever cumprido para com a arte, a certeza de que Três Coroas agora faz parte da agenda do grupo para 2011. Na vida o que importa são os dons que trouxemos, a arte que amamos e os amigos que fazemos!



                                                                                         A Rainha

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