Diário de bordo XXXIII- O Incidente em Nova Prata 03/11/2010

Um novo Incidente

Incrivelmente o espetáculo O Incidente do Grupo Máschara ainda é assistido, vendido, produzido pelo mundo a fora. Não é mais o Incidente de 2005, e muito se perdeu e mudou de lá para ca. No entanto preciso dizer que esse retorno foi perspicaz. O elenco agora é formado por Cléber, Angélica, Gabriel, Luis Fernando, Diego, Renato e Alessandra. Um arrojo corajoso. Mas para que? Por que?
Ora porque sempre há um bom motivo para se retornar ao palco, por que sempre que houver um púlico em potencial com interesse em algum trabalho, deve-se satisfazê-lo. Mas porque com esses atores? Por que com tantas caras novas? Do elenco antigo só reconheço Cléber Lorenzoni e não como Menandro Olinda como em outrora. Um espetáculo pode ter várias funções para um grupo de atores, pode ser um exercício, uma incurssão divertida, uma pesquiza, uma crítica social, etc... E aí vejo várias dessas intenções.
O problema é o teatro não de rua na rua, estranho paradóxo. O Incidente é um espetáculo concebido para palcos alternativos, mas não tem técnica de teatro de rua. Os atores precisam ter noção do teatro tridimensional, da necessidade de impostação de vóz, de saber adaptar-se ao espaço, da concorrencia com ruídos e ações provindas desse ambiente sempre em movimento que é a rua, mas principalmente, que se no teatro italiano ou elisabetano é difícil segurar a platéia, na rua essa dificuldade é quadriplicada. Em determinada ocasião, assistindo um espetáculo de Antonio Fagundes, ouvi que o público tem disposição para manter-se concentrado por apenas 7 minutos. Mas e na rua, esse tempo deve cair para 3 ou 4 minutos?
O grande destaque de O Incidente está no trabalho corporal, apelo visual do espetáculo. Mas o que mais me encanta é o texto. Rebuscado, cheio da virtuosidade criativa de Erico Verissimo. Conhecedor profundo do povo gaúcho e de suas peculiaridades. Antares é um microcósmo do Brasil, e os sete mortos de Antares carregam consigo um pouquinho de cada cidadão brasileiro. Quem sái do teatro, deve correr ao livro, a peça é um convite a buscar a leitura. É como um leve adossicar nos lábios para se querer comprar o doce.
O que há com Luís Fernando Lara, o vejo tão pouco no palco, sei que é um encantador crítico teatral, sempre com alguma observação inteligente sobre o trabalho dos colegas. No entanto hoje o ví fascinante em cena. Intenso, presente, vivo, com a energia percorrendo o corpo. "Fogo nas ventas"! Mal maquiado, percebí, mas "na cena"!
Angélica Ertel é uma atriz versátil, rápida na compreensão e caracterização de novas personagens. Hoje a ví criando, melhorando seu trabalho a cada encenação de O Incidente.
Diego Pedroso é uma das caras novas e partiu rápido do período de estágio para a cena. E começou bem, aliás, embora sua composição seja muito diferente da concebida por Cristiano Albuquerque em 2005, me fez lembrar muito aquele ator. Precisa claro buscar a técnica, a compreensão vocal, a tridimensionalidade cênica, mas já tem a intuição, e isso é certamente a base de um bom profissional.
Alessandra Souza como Erotildes da Conceição foi adequado. Segundo Roger Castro ela agradávelmente lembrou-lhe Lauanda Varone. Acredito que o teatro é uma esfera de energia, provindas do organismo dos atores, do olhar dos diretores, do público, do texto, de quem ocupou aquele espaço, do conhecimento universal que perpassa pelo ambiente. A energia daqueles atores todos que tanto se dedicaram ao Incidente de Erico Verissimo certamente continua alí. Mas Alessandra Souza precisa buscar a osmoze entre fisico e sentimental, entre técnica e talento. Precisa ousar naquilo que tem espaço para ousadia, e encontrar o bom senso naquilo que já está estabelecido.
Gabriel Wink precisa de ensaio, é um ator talentoso, isso não se discuti, mas tantos antes dele já mostraram talento e acabaram não trabalhando seu talento... É uma pena. A adaptação do monólogo na segunda encenação foi ousada, pe´rdí um pouco de Menandro Olinda, mas compreendo sua intenção em ficar mais próximo da platéia.
Renato casagrande é jovem, jovem nas ações, jovem nos sentimenos, jovem em compreensão e isso é ótimo para a energia e a postura física. Devería repensar, o diretor, antes de dar-lhe determinados papéis.
Cléber Lorenzoni não teve no palco seu requinte de ator grandioso, foi claro o líder da cena, e como sempre guiou, cortou adaptou, tomou decisões em cena.
Penso que O Incidente devería ser mais ensaiado, mais trabalhado, ou abandonado.
No Máschara há três tipos de atores. Os prontos. Os honorários e os iniciantes. Há na diretoria do grupo talento para preparar todos, falta aos atores ousadia em querer aprender. O teatro não cai do céu. Só se cair direto no inferno!


OBS: Fiquei sabendo por fonte segura que o prefeito da cidade citada não tería gostado de uma mensão que a prostituta Erotildes da conceição fizera ao prefeito DE ANTARES, pois ficaría o público tirando grarça de sua postura. Eis aí a função priemeira do teatro, degladiar a sociedade, inquirí-la em relação a sua postura. Eis aí um bom momento para os atores compreenderem o que é ideologia e para onde ela pende em situação como essa.



                                                                                        A Rainha


                                                                                       

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