Diário de Bordo XXXI - Feriadão - tomo 91- em Antonio Prado

Arte Educação

            Quando o teatro é usado para educar, ensinar, ou impor um ponto de vista, ele se afasta do intuíto inicial, que é o de instigar as pessoas a terem seus próprios pontos de vista, a decidirem por sí só o que consideram certo ou errado. A arte não pode ser impositora, ela é a expressão de milhares de inspirações do homem para com a existência, como ninguém sabe realmente o que é certo ou errado, então não há como querer decidir pelo público. 
             No que diz respeito ao teatro infantil, o teatro certamente chega mais perto do limite entre educação e arte. Mas ainda penso que é preciso tomar cuidado para não impor pontos de vista de uma determinada época, lugar ou situação. 
               Em Antonio Prado assisti mais uma vez Feriadão, aliás não assistia esse espetáculo há muito tempo. E me pergunto por que continua sendo apresentado se é tão pouco ensaiado, trabalhado. O Texto de Feriadão é simples e parte da premissa de duas familias que hajem uma dentro do princípios ditados certo no trânsito e a outro nos errados. Mas o espetáculo ultrapassa a questão do trânsito indo9 esbarrar nas questões de mobilidade das pessoas. no movimento, na ação interna e externa, nas intenções. No ato das pessoas que desencadeia outra seqüência de fatos. Será que o elenco ainda lembra desses fatores? Um espetáculo é reflexo de pesquisa, de compreensão, de postura. Em Feriadão parece que muito se perdeu desde sua estréia em 2002. Do elenco original apenas Cléber Lorenzoni. 
                Gabriel Wink é muito bom em modificar tipos rapidamente, em compor personas diferentes, mas falta ensaio, treino, prática naqueles pais. Alessandra Souza substituindo, que lástima, uma caminhada tão positiva nos últimos dias, e então essa substituição pouco preparada. O restante do elenco estava afiado, cantavam, não em uníssono, mas enfim. Me agrada se for apresentado assim, na rua, em lugares alternativos, mas para o palco, necessitaria de mais. De maior verdade, maior aparato e técnica. 
                  Um grupo de teatro como o Máschara que dura mais de 15 anos, acaba vendo várias gerações de atores, e em cada época, novos princípios são trabalhados, novas formas de se ver a arte, ética e estéticamente. Um grupo é feito de atores, espetáculos são feitos por diretores, mas equipes, encenações,  dependem dos artistas. E um grupo de artistas mal preparado pode acabar com uma Cia. Existem dois tipos de artista, aqueles que querem aprender, que são humildes por toda a vida... E aqueles que depois de lerem um livro ou dois, ou ainda de saírem da faculdade, pensam que sabem tudo, que são invencíveis, os melhores. Da para conviver com esses dois tipos distintos de houver respeito. Mas é preciso muito virtuosismo por parte da direção. 
                     Aconselho o Máschara a rever a montagem de Feriadão, o público precisa de mais espetáculos como Lili Inventa o Mundo. E os atores precisam de mais humildade para alcançar o brilhantismo...

                                                                                                 A Rainha

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