Diário de Bordo IX - A Maldição do Vale Negro em Horizontina 29/04/2010

                           O teatro é feito pelos atores e o público, juntos eles promovem o espetáculo. Os atores com sua interpretação, o público com sua compreensão e resposta à narrativa. Quando um espetáculo começa, o público leva uns dez minutos para fazer a codificação do que está prestes a assistir. Se será um drama ou uma comédia; se será nonsense ou realista; se os atores falarão normalmente ou se a comunicação se dará por gramelô; enfim, quando o intérprete de Rosalinda adentra o palco, o público mais conservador leva um susto - é um espetáculo de "travestis"? Somente quando Gabriel Wink, intérprete de Ágatha entra em cena vestido de Rafael D'Alançon, é que a assistência respira aliviada - "muito bem, eles farão vários papéis..." Mas A Maldição do Vale Negro é também um espetáculo de travestis sim, é a resposta ao conservadorismo fajuto de muitas platéias.  O Teatro não tem lugar para o preconceito, para o racismo, e outras formas de intolerância, ele é o ambiente da diversidade, tanto de idéias, quanto de tipos. Os atores sobre o palco falam antes de tudo de tolerância e de respeito.
                            O Centro Cultural de Horizontina estava abarrotado, platéia de todas as idades, alguns velhos conhecidos, o Máschara já estivera ali em 2008 com Esconderijos do Tempo;  e o espetáculo aconteceu, chocando alguns, divertindo outros, exatamente como deve ser, uma peça de teatro não foi feita apenas para agradar, ela precisa antes de tudo despertar pontos de vista. O aplauso foi caloroso, gentil, deixando os atores atraídos para mais uma incursão. Horizontina faz parte agora daquele seleto grupo de cidades que possuem um bom espaço e um bom público. Claro que grandes Cias. dificilmente se apresentariam ali, hoje em dia as trupes das grandes cidades só se motivam a fazer seus espetáculos em grandes teatros, abarrotados de material técnico e centenas de refletores. Contudo eles perdem um público ansioso por teatro, por arte, por novidades. Um público carente de uma das mais antigas artes da humanidade.
                              Após o espetáculo houve explanação por parte dos atores para um jovem grupo de entusiastas da arte. Eram alunos da professora  Isa da escola  Frederico Jorge Logemam, que também já abrilhantaram uma das noites do projeto Holofotes em Cena. Curiosos pelo que viram sobre o palco, sua presença alí era uma inspiração para os artistas. E  sua escola deve certamente se orgulhar, encontrar um grupo de adolescêntes interessados em arte hoje em dia, é um arrojo.
                               Mas o fim da noite chegou, e mais uma vez o cenário foi desmontado, a sprinter carregada, e o teatro seguiu para outras paragens. Em busca de outros públicos, de outros teatros, de outras historias. Essa é a vida dos artistas... Penosa, árdua, cheia de altos e baixos.
                              
                              O homem que aceita tais condições não pode ser comum, não pode ser como os outros.  Dar tanto e receber tão pouco em troca... Na falta de outra coisa há o aplauso, é claro. Como ondas de amor que nos invadem dos pés a cabeça...                                            
                                  "Anne Baxter em A Malvada"
                             
                                                                                                          A Rainha

Comentários

  1. Só para corrigir: a professora de teatro do Frederico Jorge Logemann é a Isa, não a Dani.

    Ass.: Jovem entusiasta da arte.

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