Diário de Bordo I - Esconderijos do Tempo em Santo Angelo (11/03/2010)

            ...Porque a magia acontece em qualquer lugar...

                       Quando nos ligam do IEACEN, para mais uma apresentação do EMANCIPAR, ficamos muito excitados, na expectativa quanto a qual cidade estará nos recebendo, para onde seremos enviados... Estará esse público preparado para nosso espetáculo? Saberá ele exercer seu papel de público?
Enfim, a cidade do momento era Santo Angelo, velha conhecida do grupo Máschara, la estivéramos em 2002 com FERIADÃO.
                         Depois de noventa minutos de viagem (pouco para quem já está acostumado a bancos de vãs), lá chegamos. Rodamos alguns kilometros até encontrarmos o Bairro João Goulart. Esse é o diferencial do EMANCIPAR, o teatro vai a bairros ou escolas do interior, em uma iniciativa maravilhosa do governo do estado, oferenco teatro à comunidades de baixa renda.
                         Quando paramos em frente a associação comunitária, confesso que assustei-me, pois o local parecia pouco maior que uma casa da COHAB, ora após nos informarem que a platéia seria de adultos, haviamos optados por apresentar Esconderijos do Tempo. Minha dúvida? Como criar o clima do espetáculo em um ambiente tão poco adequado.
                             Fomo recebidos por um homem de meia idade que msotrou-se prestativo e nos apresentou ao espaço. Havia cadeiras e mesas por todo lado, as paredes era pintadas de amarelo e janelas pequenas e pouco iluminadoras espalhavam-se por todo o ambiente. A um canto havia uma geringonça similar a um ventilador, que fazia um desagradavel ruído e lançava particulas de água ao redor.
                               Um diretor precisa tomar decisões rapidamente e foi o que fiz, mentalizei nosso cenário e ordenei que descarregassem nossa bagagem. Enquanto as atrizes Angelica Ertel, Dulce Jorge e Alessandra Souza montavam o cenário; Roberta Correa, Gabriel Wink e Tatiana Quadros empilhavam mesas. Pedi as crianças locais que organizassem as cadeiras.
                               A organização do evento (ogerizo esse termo) chegou pontualmente e embora muito amavel, esquecera o aparelho de som. Imaginei com meus botões, vai ser um "tour de force".
                                O calor parecia de 40 graus, o figurino é quente e a maquiagem pesada e apesar de nos apresentarmos em um lugar alternativo, não abro mão da perfeição. As pessoas não compreendem que não fazemos pelo dinheiro, apesar de ser nossa profissão. É como uma obrigação, uma missão, um sacerdócio que precisa ser bem executado, custe o que custar.
Às 15 horas, havia não mais que trinta pessoas espalhadas pelas 50 cadeiras, dos quais 20 eram crianças. Dulce Jorge me lembrou: -Deviamos ter trazido Lili Inventa o Mundo. - Mas não me preocupei, Esconderijos do Tempo é tão maravilhoso e envolvente que se adapta a qualquer público de qualquer idade.
Fui à cena às 15:15, lógo na primeira cena percebi que o calor atrapalharia, o público estava muito próximo o que tornava o momento mais caloroso. A atriz Tatiana Quadros não parecia muito absorta a cena e por pouco não me desconcentrou, dirigir e atuar é um arrojo. Já a cena com Angélica Ertel foi uma das melhores que a dupla vivenciou nos ultimos tempos. Houve muito jogo e o lado comico da cena agradou o público. Para quem faz teatro, essa é uma constatação, se você pega o público na primeira cena, aí fica fácil. Alessandra Souza começou desafinada, não é atriz para o canto, e seu solilóquio do peixinho foi atrapalhado por ruídos na platéia. Gabriel Wink e Dulce Jorge vieram com a garra de sempre, mas suas cenas foram prejudicadas pelo calor e não tive alternativa a não ser reduzir as cenas no ato. Os atores compreenderam, afinal as vezes o visual e a plástica são o suficiente para causar a reação esperada. Por fim Renato Casagrande  alcançou uma de suas melhores inspirações como anjo malaquias.
                              O aplauso demorou por vir, mas foi caloroso.
                              Encerramos o dia preparando o retorno, certos de que nossa oferenda alcançara os ouvidos de Dionísio e souberamos transformar aquele espaço distante de um teatro, longe do centro, rodeado de pessoas que nunca haviam visto teatro, em um templo da arte.
                                                                                                          
                                                                                            O diretor.

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