Analise de A Madição do vale negro

Somente uma sociedade evoluída e culturalmente organizada se felicita e prepara o surgimento de um novo artista. O aflorar de um novo amante da arte é como uma golfada de ar puro em meio a poluição, é luz na escuridão, é vida em meio a selva de pedra e concreto que o mundo se tornou. Augusto Boal, diretor e crítico teatral, falecido há uma semana, costumava dizer que depois de criar o universo e habitá-lo como suas maravilhas, Deus decidiu criar o “artista”, para que esse continua-se através do teatro, da musica, do desenho, das letras, a criar maravilhas para a humanidade. Pois bem, no domingo à noite eu presenciei o nascimento de um artista: Ricardo Fenner em A Maldição do Vale Negro.O texto, um melodrama açucarado do santiaguense Caio Fernando Abreu, foi satirizado e contemporâneizado pela mão geniosa de Cléber Lorenzoni, amparada por Dulce Jorge, companheira de caminhada, e pela vivacidade da iniciante Angélica Ertel. Estes souberam fragmentar, costurar e polir um espetáculo de sete personagens em interpretações de três atores. O público fartou-se. Sentada ao lado de outros já conhecidos fãs do Cena às 7, vi com meus próprios olhos o quanto Cruz Alta aprendeu a aproveitar o teatro.

Não acho que o teatro tenha que fazer alusão a televisão, mas o bom senso me faz compreender que em A Maldição do Vale Negro, há muito da televisão e do rádio. Foi sem dúvida um acerto, um arrojo como diria o jornalista Paulo pinto. A agilidade dos atores em compor suas personagens, em vesti-los de trajá-los de verdade cênica em poucos segundos, como a transformação do “Conde” para a “Cigana” atrás de uma banqueta do cenário. Um português rebuscado dos tempos do Império, muito bem pronunciado até mesmo pela narração muito conhecida para quem assistiu “Esconderijos do Tempo”. Gabriel Wink surpreendendo na vilã, e na versatilidade de suas três personagens. Enfim uma deliciosa estréia.É difícil, tudo conspira contra, eu sei, o espaço não é apropriado, os atores tem meia dúzia de apoiadores, o público ainda é pequeno. Contudo a arte é um sacerdócio, um vício que poucos compreendem, mas que muitos já respeitam como a cerimônia sagrada que é...

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