Há quem não tenha paciência com crianças sobre o palco, eu por outro lado, aprecio teatro, todos eles, feitos por quaisquer pessoas, sob quaisquer circunstâncias. Nos últimos dias assisti muito teatro, feito com crianças, por artistas do Máschara, jovem estudantes de teatro e o artista pejuçarence, Didy Flores. As temáticas dividiam-se entre os mais variados temas, do infantil ao juvenil, todos é claro, inspirados em Erico Verissimo, escritor que em 2025, completa 120 anos de historia.
É interessante pensar, que mesmo não estando mais entre nós, Verissimo, é um agente cultural, ou como diz Lorenzoni: um fazedor de Cultura. Ou seja, ruas, prédios, canções, gibis, praças, estátuas, filmes... Tudo emana dele. Ele, Erico não produz mais arte, mas sua arte, motiva novas artes, de novos artistas.
Assim sendo, Viva Erico e viva ao FesTeatro. No palco dificuldades normais, típicas dos fazedores de teatro e também do teatro escolar. Narrativas criativas, que precisam de um determinado refinamento, atuações a altura do tempo que os professores tiveram para trabalhar com as crianças.
Quando se faz um festival de teatro, na maioria das vezes, o prato principal não é o teatro em seu sentido espetacular, mas em seu sentido humano e social. O teatro, dentre todas as artes, o que mais sofre preconceitos e por que? Por que é o mais poderoso, já que coloca o ator, a atriz, no púlpito, disposto a falar. É o teatro que grita o que está errado. O teatro liberta e faz pensar. Faz questionar. E ninguém quer ser questionado, nunca... O teatro derruba castelos dentro de nós, que trazemos de casa. Castelos que em muitas vezes são castradores e medíocres, baseados no olhar humano que uma geração ou duas atrás de nós, tiveram sobre a vida. O teatro nos faz olhar de verdade o outro. Nos faz ver o outro e construir com ele.
Vi muitas crianças vencendo barreiras no FesTeatro. Barreiras de comunicação, de auto estima, de vida. Jovens se interessando de verdade por algo. O colorido do festival, as milhares de camadas, nos textos; nas posturas; em um apresentador vestido de senhorinha; a presença da prefeita; são apenas algumas das poderosas ações que o mesmo propõe.
Destaques para aqueles que souberam trabalhar em equipe, que uniram forças com as escolas e compuseram algo para colocar sobre o palco. Augusto Boal dividiu o teatro em três camadas muito distintas, na qual o teatro de grupo, ocupa o terceiro lugar, é impossível não se dar conta que o teatro estudantil, é uma das camadas do teatro de grupo. Ali nascem, os primeiros passos para o trabalho em equipe, o trabalho amador. É importante por isso, que o instrutor ensine a criança, o aprendiz, que aquele momento é o primeiro de uma etapa ascendente. É função dos mais velhos, preparar as equipes para uma vida teatral. Trabalhando a criatividade, o pensar, e a iniciativa. Fiquei muito feliz e admirada com o olhar mais glamuroso que os instrutores trabalharam nesse FesTeatro. Os visuais por exemplo, das turmas do Gabriel Annes, 18 de Agosto e Arthur Moreira cresceram muito. A escolha dos textos de Castelo Branco e Antonio Serra, foram muito criativas. Nos elencos, destacaram-se principalmente Ravi Dantas, Aurora Serquevitio e Tayla Plautis.
FesTeatro retorna em 2026, torçamos que até lá os instrutores evoluam ainda mais, aprendam mais e descubram verdadeiramente o prazer em fazer teatro com crianças.
A noite de premiação, nos brindou com um lindo presente, a performance: As mulheres do Tempo e Vento. Um exercício teatral muito criativo, sem grandes ambições, tendo como pano de fundo a obra do escritor magno da nossa cidade. Sem exageros, ou dramas clichês, Lorenzoni opta por dar protagonismo às nove alunas da ESMATE Baby. Elas são as protagonistas de uma trama simples e gostosa de assistir. Amigas, gurias, se reúnem para fazer um trabalho de escola, para isso, recebem ajuda da avó, Dona Bibiana, que nos faz mergulhar em devaneios que parecem ora lembranças, ora situações fictícias. Aplausos para a participação de Carol Guma e Ravi Dantas, que ao lado de Kleberson Ben e Felipe Brandão nos fazem voltar no tempo. Talvez o final pudesse ser mais pontual, uma assinatura mais dolorosa, na partida dos dois personagens fantásticos, ao final da narrativa. O mise en scène se cumpre com o apoio de uma cadeira de balanço e um velho baú. Por outro lado, os praticáveis, parecem engolir os artistas em cena. A trilha é clichê, mas talvez seja esse o objetivo, através do clichê, nos dar aquilo que a performance não conseguiu dar conta.
Palmas, palmas, palmas, grata ao trabalho hercúleo do Máschara, em fazer viver um festival de teatro em Cruz Alta.
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