segunda-feira, 17 de novembro de 2025
terça-feira, 11 de novembro de 2025
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
1299/1300/1301/O Incidente (tomos 97/98/99)
TRES INCIDENTES EM UM SÓ DIA...
Cada um com sua verdade, já que o teatro é assim, único. Quem viu, viu, quem não viu, sentimos muito... Constrói-se uma apresentação no camarim, entre uma conversa e outra, entre uma intimidade e outra dos atores. Um dia tenso nos camarins gera um tipo de espetáculo, um dia leve nos camarins, gera outro clima. Pois o ator sente, sofre influências do mundo ao seu redor. No camarim nascem amizades, no camarim há a troca. Empresta-se um cajal, um rímel. No camarim um ator limpa a roupa de outro. No camarim oferece-se água, chá, suco... No camarim contam-se tristezas, trocam-se historias de namoros e flertes. No camarim nascem alianças que podem durar quarenta minutos de encenação, ou uma vida inteira. Camarins são lugares maravilhosos, com seus lanchinhos gostosos, com suas mil lâmpadas que iluminam a maquiagem dos atores, ou com os entraves de pessoas complicadas que acabam por criar climões em dias de espetáculos.
O palco é um lugar meio frio, vazio, silencioso. Para preenchê-lo, são necessárias vivencias. Um ator, diz o que vai entro dele. Diz um ator conhecido, que somente o ator "sabe o peso de uma lágrima", do que vem com ela... As luzes acenderam-se lindíssimas e precisas sobre sete corpos que transcenderam, para falar de Erico, falar do Brasil, e para falar de si mesmos. Atores bons sabem que no palco estão falando suas verdades, suas dores, suas questões. Não é centro espírita, os mortos não existiram de verdade. Então o ódio de Cícero é de Kléber Lorenzoni, a mágoa de Menandro é de Renato Casagrande. A revolta é de Kleberson Ben e as reclamações sobre ingratidão são de Carol Guma. E para os atores, descobrirem se estão mergulhados realmente nas cenas, convinha que eles questionassem o que eles pensam sobre a morte. Sobre a igreja, sobre a ditadura, sobre a política. A transformação causada por um espetáculo, começa pelo palco.
Cada cena de O Incidente, deflagra interrelações: o olhar de Dona Quitéria para com a prostituta, de Menandro para com Cícero e Barcelona, de João para com Cícero e assim por diante. Erotildes nunca imaginara que seria defendida por José Ruiz. Barcelona nunca imaginara que Cícero estaria certo... Dona Quitéria veio até a cidade, o coreto, para acompanhar os outros mortos, nunca imaginou que iria se dar conta do quanto suas filhas eram "tratantes"...
O Incidente vai revelando camadas dentro de camadas. Será que os interpretes de O Incidente entendem por exemplo que estão falando de uma mulher que matou o marido por que era maltratada por ele. De um homem que não queria se matar, mas se machucar, para parar de sentir a dor...
É necessário que atores olhem todos os dias para dentro de si.
Falemos agora de comunicação. De como cada ator se comunica com o público. De como cada um trabalha em prol de ser amado e respeitado pelas plateias. Atores comuns passam pelo palco e um dia são esquecidos, por novas safras de atores... Mas atores incríveis, nunca mais são esquecidos. Não apenas por que são bons em cena, mas por que compreendem que quem contrata um espetáculo, um artista, está na verdade comprando uma sensação. Um tipo de prazer...
Incidente em Antares teve três inserções muito diferentes, distintas. Minha preferida foi a da noite. Pois foi quando mais longe chegou a disponibilidade estética. E estética é o maior sentido da arte.
Parabéns às estéticas de cena. Parabéns a jovem atriz Ana Clara Kraemer que precisa ganhar três estrelas pelo lindo trabalho como técnica de luz. Serquevitio esteve muito bem, mas a noite sua cena foi muito mais visceral e por isso merece também três estrelas. Douglas Maldaner pode estar mais atento e Kleberson Ben deve solidificar suas bases, para criar recursos para cenas que pedem mais intensidade emocional.
Junior Lemes e Carol Guma possuem uma postura madura, muito interessante, mas podem lapidar suas interpretações. Didi Flores é um jovem que parece muito esforçado, não pode esmorecer na caminhada. Seu visual esteve muito interessante nesse dia.
A trilha de Roberta Teixeira durante as inserções do dia funcionaram, mas a noite algo prejudicou a precisão da operação.
O melhor, que penso que é impossível não mencionar, é o trabalho dos anciãos. Atores de carreira que preenchem o palco com tranquilidade e maestria. Parabéns Lorenzoni, Fenner e Casagrande.
O Incidente
Roteiro e Direção Kléber Lorenzoni
Elenco: Kléber Lorenzoni, Carol Guma (*)(**)(**), Renato Casagrande, Antonia Serquevitio (**)(**)(***), Clara Devi (**)(**)(**), Douglas MAldaner (**), Junior Lemes (**), Didi Flores (**) (***), Ricardo Fenner, Kleberson Ben (**)(**)(*),
Contrarregragem: Ana Clara Kraemer (***)(**)(***) , Roberta Teixeira (**)(***)(*)
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
1296-Rei Lixo (tomo 03)
Sempre que podem, nos últimos quatrocentos anos, estudiosos, ensaístas, literatos, ou mesmo artistas, tentam reinventar Shakespeare. Encontrar nessa cascata inesgotável de vida, de pensamento, de filosofia humana, um "algo" ainda não percebido. Stendhal, Samuel Johnson e até, por que não dizer, Gordon Craig. Todos eles, e muitos outros, viram facetas, detalhes, nuances novas. Ontem, após assistir Rei Lear mais uma vez, eu tive uma epifania. O Máschara, ou o Kléber, ou o Grupo, enfim, encontraram uma nova visão bastante simples e óbvia, mas que muitos ainda não enxergaram: Shakespeare é tão humano, que é simples. Mas não é o humano de forma supérflua, ao contrário, ele é profundo, corajoso. Shakespeare está lá, onde poucos ousam penetrar. No pensar!!!
Sobre o palco, sete criaturas, sete dons, sete vidas. Um número importante e significativo, regido por um Lear pantocrator. Ao seu redor: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Esses são os sete corpos celestes, vistos a olho nu pelo homem. Os sete corpos que Lear rege, enxerga de seu trono. Respectivamente esses signos celestes representam a essência de Edgar, os instintos de Cordélia, a energia objetiva de Edmundo, a comunicação do Bobo, a expansão ambiciosa de Regana, a paixão de Goneril, e a responsabilidade de Gloster. Lear tem a percepção do Bem e do Mal, mas se equivoca com a postura dos que o servem. Por isso decide sair desse mundo, decide ficar na tempestade, percebe que o mundo não é mais um bom lugar para viver.
Douglas Maldaner vem mostrando um belo crescimento e desenvolvimento em seu trabalho de ator, mas pode falar mais alto, não baixar seus volumes ao final de cenas. Qual será a postura, ou a energia de um cavalo quando se sente ecoado, como Edgar? Eu enquanto admiradora do Máschara a muitos anos, torço que esse jovem um dia se torne um dos Anciãos, ensinando o que aprendeu, às próximas gerações.
Dos bufos, com seus corpos deformados ou "excêntricos", expondo as deformidades da alma humana, destacam-se Carol Guma e Ana Costa. Essa ultima com uma criação sofisticada e delicada, quando perfiladas, as três filhas de Lear nos dão o colorido exato, da colcha de retalhos que a direção do espetáculo pintou.
O bobo e Tom, interagiram de forma quase poética com Lear, formando belíssimas figuras plásticas pelo palco. Uma pena o cajado do ancião ter rolado pelo precipício em frente ao palco, muito embora, cair do palco dê à cena o clima exato de finitude de poder. A iluminação de Ana Clara Kraemer coroou o palco, enquanto a maldade de Edmundo foi muito bem interpretada por Renato Casagrande.
Rei Lixo vem crescendo, e seu elenco aprece descobrir a cada nova inserção do espetáculo, novos olhares sobre o teatro do bardo. Acredito que Douglas Maldaner ainda possa descobrir novas formas de apresentar a cena de encontro entre pai e filho, lembrando sempre que se trata do protagonista do espetáculo.
Uma das principais características do Máschara e percebo isso ano a ano, é a forma como ele constrói artistas, e isso se dá de uma forma muito simples e até prática. A direção do Grupo, formada por uma equipe de diretores-anciãos, presentes ou distantes, coloca jovens iniciantes (membros externos) entre elencos de peso, com preparação intensa ou anos de carreira, e de uma forma quase orgânica, esses atores vão absorvendo meio que sem perceber, as capacidades do todo. Assim, Ana Costa e Junior Lemes, por exemplo, não deixam nada a desejar para uma narrativa que reflete unidade e equilíbrio de atuações. Claro que o tempo de teatro pesa, claro que possivelmente as capacidades já estejam intrínsecas, e o Máschara apenas as desperta. Assim sendo, o Duque primata e a Princesa Galinácea, preenchem o palco como atores de alto escalão. Merecendo a meu ver destaques no festival.
A cena final do espetáculo toca pela pompa e circunstancia, tão típicas do jeito de fazer teatro do Máschara. Um obra única, que deve ser revisitada sempre, como uma aula de pronuncia de Shakespeare.
Rei Lixo- Festival Rosário em Cena
Direção e texto- Kléber Lorenzoni
Elenco:
Kléber Lorenzoni,
Renato Casagrande
Douglas Maldaner (*)
Antonia Serquevitio (**)
Junior Lemes (***)
Ana Costa (***)
Kleberson Ben (*)
Carol Guma (**)
Contra Regragem
Ana Kraemer (**)
Roberta Teixeira (**)
DidY Flores (**)
Arte é Vida
terça-feira, 4 de novembro de 2025
Premiações de Melhor Atriz Coadjuvante
2025
Raquel Arigony - Maria de Bethania - Melhores do Ano - 4º Troféu
Leonir Batista - (Tia em A Hora da Estrela) - Festival De Teatro Estudantil de Paim Filho - Iª Indicação
Eliani Aléssio - (Glória em A Hora da Estrela) - Festival de Teatro Estudantil de Paim Filho - Iº Troféu
2018
Clara Devi -Carolina em Lendas - Melhores do Ano - 1ª Indicação
Alessandra Souza - Serafina em Lendas- melhores do Ano - IIº Troféu
Raquel Arigony - Isabel em Auto de Natal - Melhores do Ano - 3ª Indicação
2017
Raquel Arigony - Maluc em A roupa Nova do Rei- Melhores do Ano - 2º Troféu
2016
Raquel Arigony - Velha Cega em Complexo - Melhores do Ano 1º Troféu
Dulce Jorge por Eunice Cintra em Olhai -2º Cena Viva - 8º Troféu
Fernanda Peres por Irmã Isolda em Olhai - 2º Cena Viva -1ª Indicação
2012
-1rgarida em O Santo e a Porca -Art in vento - 2ª Indicação
2009
Dulce Jorge por D. Quitéria em O Incidente 11º DOMPA 10º Indicação
Alessandra Souza por Rita em O Incidente 11º DOMPA 1º Troféu
2008
Dulce Jorge por D. Glorinha em Esconderijos 1º FETTEN 7º Troféu
Tatiana Quadros por Fada Mascarada em Lili XVº ERECHIN 1º Troféu
Dulce Jorge por D. Glorinha em Esconderijos XVº ERECHIN 6º Troféu
Tatiana Quadros por Fada Mascarada em Lili 10º DOMPA 1ª Indicação
Dulce Jorge por D. Glorinha em Esconderijos 10º DOMPA 5º Troféu
2007
Dulce Jorge por D. Glorinha em Esconderijos 11º FERTAI 4º Troféu
Angélica Ertel por Glorinha em Esconderijos 11º FERTAI 1ª Indicação
2006
Kellem Padilha por Lili em Esconderijos do Tempo 5ºFESTSALTO 1ª Indicação
2003
Lauanda Varone por Criada em Bodas de Sangue Xº FERTAI 1ª Indicação
Dulce Jorge por Mãe em Bodas de Sangue Xº FERTAI 3º Troféu
2002
Simone De Dordi por Lady Macduff em MacBeth XIIIº FETARGS Final 9ºTroféu
Simone De Dordi por Lady Macduff em MacBeth XIIIº FETARGS 13º Indicação
Simone De Dordi por Lady Macduff em Macbeth 16º CANELA 8º Troféu
Simone De Dordi por Dorina em tartufo 2º FESTSALTO 7º Troféu
Marcele Franco por Mariana em Tartufo 2º FESTSALTO 7ª Indicação
Dulce Jorge por Elmira em tartufo 2º FESTSALTO 4º Indicação
Simone De Dordi por Lady Macduff em MacBeth -9º FESTVALE 10ª Indicação
Simone De Dordi por Lady Macduff em MacBeth -9º FERTAI 6º Troféu
2001
Marcele Franco por Mariana em Tartufo – XIIº FETARGS –final Caxias 2º Troféu
Dulce Jorge por Elmira em Tartufo – VIº Santiago em cena- 2º Troféu
Marcele Franco por Mariana em Tartufo – VIº Santiago em cena – 5ª Indicação
Simone De Dordi por Dorina em Tartufo – XIIº FETARGS – semifinal -5º Troféu
Simone De Dordi por Dorina em Tartufo – 8º FESTVALE – 4º Troféu
Marcele Franco por Mariana em Tartufo – 3º Uruguaiana – 4ª Indicação
Simone De Dordi por Dorina em Tartufo – 3º Uruguaiana – 3º Troféu
Simone De Dordi por Dorina em Tartufo – VIIIº FERTAI – 5ª Indicação
Marcele Franco por Mariana em Tartufo – VIIIº FERTAI – 1º Troféu
2000
Simone De Dordi por Tirésias em Antígona – XIº FETARGS- final – 4º Indicação
Ariane Pedrotti por Coro em Antígona – XIª FETARGS- final – 3º Troféu
Ariane Pedrotti por Coro em Antígona – 1º FESTSALTO - 2º Troféu
Marcele Franco por Ismênia em Antígona – IVº Santiago em Cena- 2º Indicação
Ariane Pedrotti por Coro em Antígona – 2º Uruguaiana – 3ª Indicação
Simone De Dordi por Tirésias em Antígona – 2º Uruguaiana – 2º Troféu
Ariane Pedrotti por Coro em Antígona – 2º Rosário em cena- 2º Indicação
Simone De Dordi por Tirésias em Antígona – VIIºFERTAI – 1º Troféu
1999
Marcele Franco por Palhacinha em Carrocinha-1º Uruguaiana – 1ª Indicação
Ariane Pedrotti por Espanhola em Carrocinha – 1º Uruguaiana – 1ª Troféu
Simone De Dordi por Palhacinha em carrocinha – 3º Santiago em cena – 1º Indicação
1997
Dulce Jorge por Magnólia em Bulunga o rei azul- IVº FERTAI – 1º Troféu
1994
Dulce Jorge por Bárbara em Um Dia a casa cai – Iº FERTAI – 1º Indicação
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
1291- O Incidente (tomo 96)
Quem está ao nosso lado, na pior hora? Na hora do diabo...
Incidente em Antares é produto de uma época muito especifica, e foi adaptada para uma outra época. Extremamente atual, por tratar-se de um clássico, carrega consigo a efervescência de um povo que não muda, falando de coisas que não mudam. Nessa semana, no Rio de Janeiro, mais de cem pessoas morreram em confrontos entre polícia e grupos armados. Um ator indiano chamado Sachin Chandwade, de 25 anos, cometeu suicídio e morreu em 27 de outubro de 2025. A causa da morte foi enforcamento. Chandwade era conhecido por um papel coadjuvante na série de TV Jamtara 2. Não sabemos o que o levou ao enforcamento, qualquer semelhança a situação de Menandro Olinda, é pura especulação. A tuberculose segue presente entre nós, e continua sendo um grave problema de saúde pública em todo o mundo e no Brasil. É uma doença infecciosa e curável, mas ainda causa milhares de mortes anualmente. A TB está fortemente associada a fatores sociais como pobreza e vulnerabilidade, afetando desproporcionalmente populações como pessoas em situação de rua, privados de liberdade, indígenas e pessoas que vivem com HIV. Em 2024, o Brasil atingiu o maior número de feminicídios desde o início da tipificação do crime, em 2015. É o que aponta o novo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ainda existem muito "Pudins", batendo em Natalinas. Ou seja, faltam dois dias para o Halloween, e o mal, segue presente, em várias esferas. Quando os sete mortos invadiram o Centro Cultural de Boa Vista do Incra, foi algo tipo Guerra Mundial Z que os alunos enxergaram, demorará muito para as fichas caírem, para as catarses acontecerem, mas elas estão ali, plantadas.
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
1287- O Incidente (tomo 95)
"Aquilo que pode salvar uma comunidade, acaba sucumbindo pelos interesses políticos de uma minoria corrupta."
Vamos tentar analisar o espetáculo O Incidente através do público, foi o que tentei fazer durante os cinquenta minutos de espetáculo. Os coretos, infelizmente saíram de moda, restaram claro, palanques oficiais, mas que ocasião melhor para reunir voluntários e patronesses, do que uma feira de livros? Campo Bom apresentou uma grande estrutura para sua feira, e ainda recebeu os artistas com uma retreta, que entoava canções dos anos 80. Havia sim um representante da prefeitura envolvido na organização, mas certamente nenhum político na plateia. Eles são de exatas suponho, dificilmente de humanas. Na primeira fila, uma bufa, com um bebê nos braços, assistia muito interessada ao espetáculo, certamente era quem mais poderia compreender as camadas sobrepostas pela sagacidade de Erico Verissimo. Não por ser estudada ou culta, mas certamente pela vivência tão próxima das dores inflamadas nas personagens de Pudim e Erotildes. Aquela mulher empurrando um carrinho de supermercado com um menino doente dentro, era a verdadeira metáfora da vida humana capitalista. Quando Menandro tombou após seu bife, ela levou rapidamente a mão ao peito.
O espaço da rua coberta, no inicio com menos de quinze pessoas, foi aos poucos sendo preenchido, possivelmente por que gritos e contorcimentos do grupo de "zumbis" era a coisa mais intensa naquela tarde abafada. Era a verdadeira praça de Antares. Assim como na cidade fictícia, boa parte da turba, havia se reunido sem entender nada do que acontecia, ali também ocorriam todo o tipo de situações para disputar a atenção do público. Vendedores de livros, escritores esfaimados por vender suas obras, uma mãe que tentava ninar o filho que não parava de chorar, um casal conduzindo um cãozinho que lhes escapou exatamente na cena de Erotildes, um grupo de adolescentes preocupado em organizar uma mesa de certificados, e claro, uma fotógrafa que parecia não perceber o espetáculo acontecendo, apenas a tal mesa de certificados.
Ao fundo, com olhar inexpressivo, o organizador daquela parte do evento, observava, um pouco o palco, um pouco a feira. Talvez no fundo, torcesse que o público se interessasse, afinal, havia apostado suas fichas no espetáculo. Em meio ao cenário dantesco, e ao clima sufocante, de um calor de quase trinta e três graus, aconteceu um sagrado momento teatral. Oito pessoas, abrindo mão de seu existir por cinquenta minutos, para que criaturas, advindas da mente de um autor e de um diretor, tomassem espaço na narrativa existencial daquela tarde. Suas dores, suas culpas, suas vidas, foram sendo expostas, enquanto a vida seguia se curso, meio desorganizada, e com a estética transloucada do dia a dia. Os escritores de Campo Bom, reuniram-se lá no fundo, de costas para o palco e felizes, fizeram um retrato, aquéns do que acontecia no palco, devem ter levado a imagem dos mortos de Antares, ao fundo de sua foto, mesmo sem querer.
Lorenzoni levantou a voz, Casagrande se esforçou, Lemes engoliu uma fala ou outra, Erotildes acelerou um pouco o ritmo, Devi embolou um pouco as palavras, La Jorge engoliu algumas marcas e Ben e Flores lutaram para manter a energia. Entre uma tentativa e outro de curva, um murmurinho aqui e acolá. O som titubeando entre alto e baixo meio desritmado e finalmente uma fala do diretor, para contextualizar.
Oscar Wilde, sempre disse que há dois elencos, dois elencos que saem de casa para promover o fenômeno teatral. O elenco treinado, sobe ao palco ensaiado, o elenco de público, veio em busca da catarse, mas não ensaia. Improvisa. E nesse dia faltou jogo, faltou decoro, faltou comprometimento.
-É triste, perceber que a arte é tão pouca coisa, tão desnecessária Dona Quitéria.
-E o que o Senhor sugere Dr. Cícero?
- Que pensemos duas vezes, sobre quem merece ver nosso trabalho, ou então, que nos debrucemos com mais ímpeto sobre o fazer teatral. Algo há de sair disso...
Parabéns aos artistas que ainda lutam, que acreditam, que fazem, são eco, que outros seguem, são alicerces para a arte continuar firme, transformando o mundo.
O melhor : O esforço do ator Renato Casagrande em seguir o espetáculo, mesmo não estando se sentindo bem.
O pior: A falta de ensaios, que causou uma apresentação repleta de pequenos erros.
O Incidente - roteiro adaptado da obra e direção de Cléber Lorenzoni
Elenco original- Dulce Jorge e Cléber Lorenzoni
Elenco em substituição - Renato Casagrande 5º Menandro Olinda, Clara Devi 6ª Shirley, Antonia Serquevitio 4ª Erotildes, Junior Lemes 5º Barcelona, Cleberson Ben 7º João Paz, Didy Flores 6º Pudim.
Equipe técnica - Roberta Teixeira e Ana Clara Kraemer
Nós passamos, o teatro fica!!!


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