1180 - Esconderijos do Tempo - Tomo 94

Quem é o diretor?


                       Quando você saía de casa para ir ao teatro anteriormente ao século XIX, você ia admirar a beleza de um texto, a efervescente mente daquele homem, infelizmente muito poucas mulheres, e suas centenas de possibilidades dramatúrgicas.  Hoje você não mais preocupa-se com o texto, pois é a perspectiva do diretor que reina absoluta. O diretor diz algo que o texto não diz, ele quer expor a obra não apenas à apreciação, mas também à reflexão do expectador. Acredito que tenha sido Jean Jacques Roubine quem disse que o encenador é o gerador de unidade. Ele nos revela a dinâmica daquela determinada realização cênica. Através da direção, conseguimos ver os laços que unem figurinos, cenários, interpretações, iluminação e etc....

                         O público de teatro, a meu ver, já aprendeu a receber o espetáculo como uma totalidade, o que não acontecia nos séculos XVII e XVIII por exemplo. Uma pessoa que tem o costume de ir à casa de espetáculos olha para o palco com olhos rápidos e observadores, ela percebe quando um figurino destoa do cenário, ou quando um ator declama um pouco demais, em comparação aos seus colegas de cena. 

                           Geração após geração do teatro moderno foi ajudando a formatar essa soberania que se apoia na figura do diretor e que emprega a um trabalho teatral o titulo de obra, obra artística que um "obreiro" criou. É portanto, necessário que os atores, as equipes, os técnicos, compreendam o que aquele diretor quer dizer. Com aquela música especifica, com aquele gesto, com aquele caminhar, com aquela interjeição, com determinada réplica. Cada ator ou atriz, ou pessoa de teatro, e aí emprego as dezenas da possibilidades profissionais que consigo pensar quando observo sob a égide de trabalho, entende, pensa, age diferente. Mas é apenas um ser que assina a historia. Ele sabe por que a canção na cena da valsa é o tema de Lara, do filme Doutor Jivago. Por isso ele jamais erraria a musica correta de uma cena. Ele sabe por que um menino entra em cena chutando o chão, ele sabe o que quer passar com o visual da jovem atriz interprete de Glorinha. O público quer portanto absorvê-lo, devorar cada signo, cada símbolo dessa criatura poderosa. Antes disso no entanto, os membros da equipe, do projeto, do espetáculo, precisam compreender o que vai entrar no palco. 

                              Que historia estamos contando? Por que há um  paredão de tule no fundo do palco? Por que aquela atriz está vestida com roupa de baile de gala? Por que a musica ambiente é a de Gustav MAhler? Por que dele e não de Beethoven? O meu receio é que alguém diga: - Ora, por que o CLéber gosta desse... - Essa resposta seria frustrante demais. 

                             A resposta enfim, é essa, saber, compreender, perguntar. É isso que um membro dessa equipe deve sempre pensar. Devo perguntar tudo e possivelmente ter um caderninho para anotar tudo. Do contrario jamais irá compreender por que um ator sobe ou não na complexa porém óbvia hierarquia desse grupo.

                              Constantemente as pessoas dizem que um diretor quer saber mais, se acha superior, é absolutista ou despótico. Ora imaginem você te rum filho, que você se programou para ter, e todos ao seu redor ficarem dizendo como cria-lo, como vesti-lo para a escola, o que lhe ensinar ou não... O espetáculo é do diretor. Por isso há de se tomar muito cuidado quando um ator se apropria de forma equivocada de um espetáculo e acha que sabe o que o diretor quer dizer com aquela obra e ainda fica dizendo o que acha que os outros da equipe devem fazer, ou como devem agir. 

                                O diretor sabe de tudo, sobre o todo, não por que ele é melhor do que alguém, mas por que sua peça é como seu tcc. O Orientador não saberá, o colega não saberá, o cara que foi contratado para digitar não saberá. A única pessoa que compreenderá o TCC é a pessoa que o criou. A função dos atores não é a de ser diretores. A função dos técnicos não é a de ser diretores. A função dos contrarregras não é a de ser diretores. A função de todos é executar bem suas funções e tentar ENTENDER uma obra e não prejudicá-la. 

                                A apresentação no espaço Adão Ortiz, foi linda, criteriosa, elegantérrima. Teve logicamente seus pequenos resvalões, afinal uma equipe é viva e mutável. 

                                 Respeitemos a figura do diretor, ele batalhou muito para chegar onde chegou...



Esconderijos do Tempo

Direção Cléber Lorenzoni 

Roteiro e Dramaturgia - Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge

Elenco

Cléber Lorenzoni - Dulce Jorge - Clara Devi (***) - Fabio Novello - Laura Hoover(**) - Renato Casagrande - Antonia Serquevitio (**) - 

Participação Especial - Felipe Brandão

Iluminação - Fabio Novello e Romeu Waier (**)

Sonoplastia - Gabriel Ben (*) e Ellen Faccin (**)

Contrarregragem - Ana Clara Kraemer (***) e Douglas Maldaner (**)



                              

                             

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