Cama de Gato – Segundo espetáculo concorrente – Festival Rosário em Cena

 

 

Um circo romano...

                      O mundo evoluiu, dizem, mas as plateias, presenciais ou remotas, ainda se deleitam quando alguém tomba na arena e está prestes a ser devorado. Isso ficou muito claro durante a encenação de Cama de Gato, espetáculo concorrente do 22º Rosário em Cena, da cidade de Uruguaiana. João Chimendes foi muito feliz em sua escolha, apesar de esperar ansioso para reassistir Fictícia, sorvi cada detalhe de Cama de Gato e saí satisfeito com cada explosão semiótica que o Grupo propôs.

                      Já de cara, o visual Coca-Cola anos 60 sobre a areia de uma praia imaginaria nos rouba e nos envia direto para o mundo contemporâneo das redes sociais e dos reality shows. Um espetáculo interativo que vai abrindo à participação do público até percebermos em nós os instintos mais básicos do ser humano. A direção é pontual e sabe muito bem o que quer dizer, sabe onde chegar, no entanto os atores pecam pelo volume baixo de suas interpretações. Destaque para Felipe Oliveira, um ator que embora ainda esteja começando, tem um poder químico muito bonito junto à plateia.

                    Dois mil anos atrás, enquanto os romanos assistiam os cristãos morrerem no coliseu, não imaginava-se no que estes mesmos cristãos estariam pensando dentro da arena. Foi Sartre, mais de mil anos depois quem nos revelou que talvez o instinto humano seja mais feroz que a fome dos leões. Os quatro aprisionados, com destaque para Ana Beatriz Fernandes, interpretando a mimada Rita, digladiam-se em busca de poder, e poder concede liberdade, nessa narrativa assinada por João Chimendes e Felipe Oliveira.  O homem, no extremo momento que beira a morte, pensa sim em si mesmo, e aí não há julgamentos, pois é de seu instinto, sobreviver, manter-se em pé até o último segundo. A interpretação de Mayara Serra é eloquente e vivaz, no entanto peca pelo volume inaudível.

                     A iluminação assinada por Carlos Vaz Martins é funcional e a trilha de Victor Boff (não sei se é apenas executor), cumpre-se, embora, pudesse aprimorar-se no suspense. 

                     Talvez por ser uma segunda apresentação apenas, os atores ainda não tenham alcançado o que a direção espera, embora, arraste consigo a multidão de jovens afoitos por uma linguagem moderna, que está presente nas redes.

                     “O homem é o lobo do homem”, uma frase que Thomas Hobbes popularizou, mas que é de Titus Maccius Plautus (254 a.C -184 a.C), resume o que cada um de nós sentiu durante um espetáculo que provou que se ainda não estamos prontos para um beijo humano, não importa o sexo, é por que realmente algo na evolução, deu errado.

                    O espetáculo tem dois finais bem dispostos, falta a direção optar pelo mais útil ao espetáculo, embora essa escolha não interfira diretamente no sucesso dessa obra que nasce e que foi tão bem acolhida pelo Rosário em Cena, após Fictícia não poder ser apresentada.


 Cléber Lorenzoni - Crítico Teatral

Comentários

  1. A Ana Beatriz Fernandes é muito boa mesmo, merece o destaque 👏🏾👏🏾

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  2. Ana Beatriz merece o mundo, grande atriz

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  3. Amei a atuação do apresentador, muito expressivo e carismático

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  4. Obrigado pela crítica Cleber! Gratidão 😁

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