1125-1126-Lili Inventa o Mundo (120-121)

            Quem são os atores atuais do Máschara ? Onde aprendem e estudam teatro? Como o diretor escolhe seu elenco?


           Há é claro um apuro, um aprimoramento no grupo que desce da vã em dias de turnês, há, acredito eu, a vontade de ser bom em cena, de merecer aplauso e cachê. Lorenzoni utiliza o sistema Keith Johnstone, trabalhando sempre o Status de seus atores. Constrói grandes estrelas, as quais se descartam no momento certo. Para que novas estrelas surjam. Esse é o ciclo do teatro. Lili Inventa o Mundo é um espetáculo que vai completar vinte anos, sua fórmula já pode estar desgastada. No entanto sua construção mantem-se firme, com partituras muito bem marcadas, edificadas pelo trabalho conjunto de atores que nem ao menos se conheceram. Por exemplo A primeira rainha das rainhas foi construída ainda por Kelem Padilha, mas Clara Devi nunca interagiu com essa atriz. Daiane Albuquerque fez a primeira Rainha das Rainhas, criou a partitura, que chega em detalhes que muito se perderam até Nic Miranda. Ou seja, os atores atuais nunca saberão o que motivou aqueles movimentos que agora eles reproduzem, ainda assim precisam reproduzi-los para que o espetáculo mantenha-se. Ou seja, quem está sendo aplaudido, por um bom trabalho, está na verdade sendo aplaudido pelo trabalho de várias pessoas juntas. Só isso já agrega ao teatro um apêndice de trabalho em equipe totalmente a parte dos pontos de vista das pessoas. Há uma ancestralidade divina que caminha com os atores, cada ator ao falar, pronunciar-se, ou produzir algo, está representando e dando voz a voz de muitos que vieram antes de si. 


             O próprio fato de subir ao palco para pronunciar as poesias de Quintana, já cria um efeito cascata. Aquilo já fora dito, já fora pensado, já fora sentido. As professoras de Alegrete devem viver constantemente com aqueles versos, já devem conhecer as historias de Lili como ninguém. Isso nos faz pensar no quanto cada verso deve ser bem pronunciado, bem sentido e bem interpretado. Lorenzoni bate sempre na tecla de que está preparando comunicadores. Pessoas capazes de carregar multidões, de agregar ao trabalho o seu próprio perfil. Sua personalidade. E então forjar aí grandes artistas, insuperáveis e estonteantemente atraentes. Vejam por exemplo, Cléber vai como Cléber, vai como Flica, vai como palhacinho, ou outra coisa qualquer que lhe passe pela cabeça; Não é a personagem, ou a roupa que lhe apregoam o gênero de comunicador infalível, mas aquilo que ele vem unindo ano após ano, um pouco de cada personagem, um pouco de cada vivencia, um pouco de cada colega, como um amalgama que foi forjado lentamente.  Isso é o que ele espera de seus artistas. Por isso ele exige tanto, critica tanto, analisa tanto. Ele faz questão dos melhores. 


             Ora, alguns não querem ser melhores, contentam-se com o pouco paupérrimo que podem fazer. Alguns vendem-se por uns trocados e podem passar uma vida toda vivendo assim. Satisfeitos. Outros, creem que tornar-se-irão grandes atores apenas repetindo e tirando suas reflexões em casa. Grandes artistas. O topo da ágora, o cume do monte sião, o verdadeiro ancião, o status 1, o artista completo. Que artistas como Angelica Erthel, Gabriel Wink, Alexandre Dill, Simone De Dordi, Dulce Jorge,  próprio Lorenzoni e Renato Casagrande já o foram. Mas engana-se que esse lugar é perene, eterno... Não! Ao contrário, quando um ator ou uma atriz lá chegam, precisam se reinventar sempre, a cada personagem, a cada olhar, a cada ação. É preciso lembrar que a plateia e os novos colegas são ávidos por mudança. Por novidades. Além disso, o topo, precisa lembrar que estar no topo não é uma conquista para receber cachê maior ou para espezinhar os outros e sim um lugar de confirmação, onde quem está deve sim ser respeitado, mas respeitar, aconselhar, acalmar, tolerar e educar. O topo é o lugar que transcende entre o velho e o novo. Onde se recebe o conhecimento máximo de uma congregação e por isso mesmo se tem a obrigação de estender o tapete humilde de todos os sacrifícios que se fez para que os outros possam também trilha-lo, um ancião ou um líder ou um membro de status I precisa entender que se não souber agir com clareza no lugar onde está, pode estar fadado a destruir e fechar as páginas do livro de sua instituição. 


               Ao observar o elenco que viajou para Alegrete: Quatro anciãos, uma atriz uma atriz status três, uma atriz status quatro e um ator status cinco, da para se pensar claramente o que isso revela do Máschara. Sobre iniciativa, sobre equipe, sobre cuidado com os colegas, sobre cuidado com adereços, sobre humildade, entrega, sobre remar, sobre tomar a frente, sobre interagir com a plateia. Sobre improviso, sobre tolerância, apoio. Sobre dever (como diz sempre o diretor). Mas o que é dever?


                    Ao final do espetáculo Senhor Poeta propôs fazer um momento com a música Góry do Góry da banda polaca Male TGD, interessante pensar na força que cada um dos atores emana quando interpreta aquela música e onde Lorenzoni quer chegar quando propõe esses momentos. Se faz teatro pelo mundo todo, grupos copiam o que outros grupos fazem pelo mundo todo... Mas é muito apoteótico conhecer o teatro que se faz no Máschara e que é diferente de tudo. Exemplo disso é a disponibilidade Máschara, a versatilidade Máschara, a competência Máschara e até mesmo a fé cênica que se estende em bons atores, mesmo após eles saírem de cena. 


                    "A magia deve ir com  o público para casa" - Cléber Lorenzoni.           

                          Mas ela só irá se ela vier de casa com os atores.


                    O Melhor: Oferecer o espetáculo Lili Inventa o Mundo ao Público da cidade natal do autor.

                      O Pior: A perda vertiginosa das partituras (vocais e corpóreas) originais tão lindas, por parte de alguns atores. 


Elenco : Cléber lorenzoni (ancião St. I)

               Renato Casagrande ( ancião St. I)

               Fabio Novello ( ancião St. II)

               Alessandra Souza (anciã St. III)   

               Clara Devi (Status III)

               Antonia Serquevitio (Staus IIII)

              Nic Miranda (Artista convidado)

 

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