Uma velinha para o menino...
Acesa no proscenio, a vela dentro de um copo nos fazia pensar nos antigos teatros elisabethanos. Um ator adentra o palco com garra e muito élan, trata-se da Cia. MADAME FRIGIDAIRE, diretamente de Soledade, com direção e atuação do polivalente Lucas Quoos. Hamlet, um arrojo em um festival que há poucos instantes acaba de se tornar Patrimônio Imaterial, exatamente pela diversidade de ideias que disponibiliza sobre o palco. A historia do principe da Dinamarca já foi contada exaustivamente e por isso mesmo, o público carrega consigo expeculações e achares sobre como deve ser feita ou interpretada essa tragédia da traição e vingança. Tudo o que há para ser dito sobre Hamlet, já foi dito, por isso talvez a peça seja usada para dizer algo sobre o intérprete...
Ora, Quoos, amante da filosofia, nos desconcerta com reflexões humanas, que ele coloca na boca de um coveiro pândego, que divertem e se esparramam pelo palco em quarenta e três minutos de espetáculo. Quoos tem boas ideias, um trabalho corporal digno de um bom ator, e ainda que sozinho em seu monólogo, preenche o palco com uma presença forte e ágil. Passamos os primeiros quinze minutos de espetáculo tentando compreender a linguagem escolhida, as convenções que irão reger a narrativa estética. A partir daí ficamos em busca de uma luz, de uma velinha na escuridão, nos faltam alguns signos que certamente esse esforçado grupo irá em busca, pois o trabalho, segundo o "corpo de jurados", possui grande potencial.
A curva dramática e a direção ficam aquéns e merecem um olhar pontual, principalmente quando o o rótulo da obra é Shakesperiano. Ainda que a luz estivesse equivocada e o ritmo confuso, Quoos animou a plateia e demarca seu espaço de encenador, com momentos deliciosos como quando contou a relaçao complexa entre Rei Hamlet, Gertrude e Claudios, usando seus pés e mão. Impagável!
Foi em um fim, uma forma muito gostosa e interessante de dar o pontapé inicial ao Rosário em cena. Se gostei ou não, não importa, teatro não é para se gostar, é para inspirar e esse certamente nos inspirou à todos.
Cléber Lorenzoni, crítico teatral.
Que esétáculo!
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