Pequenas surpresas...
Quem assistiu ao espetáculo O Incidente em Bento Gonçalves, nesta quarta feira 18 de abril de 2012, durante o lançamento da feira de livros da cidade, admirou-se positivamente com o trabalho honesto, dedicado e sensível da esquipe do Máschara. Foram dez horas de viagem ao todo entre ida e volta para levar ao bento gonçalvenses uma das mais críticas visões da sociedade que Erico Verissimo legou à literatura.
Empurrado pra lá e pra ca até finalmente acomodar-se há um espaço do evento, o fragmento do espetáculo pareceu adaptar-se perfeitamente ao espaço e em poucos minutos arrancava risos e bons silêncios do grandioso público presente na casa das artes. Lugar, infelizmente pouco conhecido pelos moradores da cidade.
Não foi nem de longe a melhor inserção de O Incidente, mas surpreendeu-me por agradáveis surpresas, Cristiano Albuquerque do elenco inicial, a impagável Dulce Jorge, que parece aprisionar seu talento e tão poucas vezes nos presenteia com sua presença. Ambos carregando mesmo que involuntariamente o âmago inicial de O Incidente em suas atuações. Isto é, com o passar do tempo e as substituições, muito do que foi concebido vai se perdendo. Atores em substituição nunca compreendem ao certo o que o elenco inicial pretendia.

Renato Casagrande também está mais maduro, com compreensão maior de sua existência cênica. Seu texto foi dito com muito mais profundidade. Gabriel Wink e Cléber Lorenzoni estavam diferentes do que costumo ver, fiquei mesmo na duvida se estavam ou profundamente centrados em suas atuações ou se estavam com a cabeça em qualquer lugar distante do palco. A cena do primeiro foi agitada demais, arriscada, cenas tão intensas como a de “Menandro Olinda” pedem a medida certa de espasmos corpóreos e técnica vocal. Cléber Lorenzoni, embora cheio de presença e totalmente dono do seu momento cênico, parecia estar testando a plateia. Sua volúpia cênica as vezes me desconcentra, tem sempre um olhar, uma acusação, uma carta na manga que de alguma forma vinga o teatro perante o público.
Alessandra Souza é uma jovem atriz, há em suas atuações um misto de paixão e confusão. Típicos em atrizes dedicadas e que ainda estão aprendendo a desenvolver suas técnicas. Aconselho-a a concentrar-se em separar as partituras corpóreas de suas personagens. Um dia será uma grande atriz levando-se em conta sua força e os macetes que está aprendendo a desenvolver. A prostituta Erotildes é um dos maiores papéis que atualmente faz, pergunto-me se a atriz tem consciência disso.
A maior tristeza que sinto é quando um ator tem dezenas de oportunidade para fazer o melhor em determinado personagem, ou peça, e um dia acaba-se a tournê e o ator /atriz descobre que nunca mais terá a oportunidade de acertar naquele. A vida como o palco, não tem segunda chance, quem viu, viu!
A técnica do espetáculo, contra-regragem, iluminação e sonoplastia, não apareceram ou surtiram pouco efeito, afinal não era noite de teatro, era noite de evento, o teatro apenas foi inserido e não sei se gosto disso! Mas uma dica fica... Há de se conhecer musica, sonoridade e trilha de um espetáculo, um som, as notas de uma musica soando em momento errado tem o poder de desconcentrar atores e público, poder de fazer fracassar o decorrer de uma encenação perfeita. A arte chega ao público por vários sentidos, e sonoplastia gaguejada significa sentido da audição prejudicado.
Parabéns ao Máschara pela ... encenação em palco e por continuarem apresentando esse trabalho ao público do estado, O Incidente é uma obre magnifica, cheia de significados, extremamente atual e que seria criminal ter um lindo espetáculo desses e impedí-lo de ser assistido, em tempos de hospícios, palhaçadas e galhofas, temo a cada dia pelo destino do olhar artístico do nosso país. O instinto humano caminha sempre para o lugar comum das necessidades e simplicidades carnais, a alma é infelizmente relegada. Obrigado por trabalharem em prol da alma
Aos atores Dulce Jorge, Luis Fernando Lara e Renato Casagrande ***
Alessandra Souza, Gabriel Wink, Cléber Lorenzoni e Cristiano Albuquerque **
Gabriela Varone *
A Rainha
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