Batatas ao molho sugo - uma análise

                         Todos gostamos de batatas, fritas, cozidas, no purê e principalmente na maionese de domingo. Me parece injusto que alguém nos proíba de comê-las, e caso isso acontecesse certamente nos seria difícil cumprir esse edito. Esse é exatamente o mote escolhido pelo diretor/dramaturgo da adaptação de Piquenique no Front. Embora tenha mudado razoavelmente a narrativa, mantêm-se o âmago do gênero, ou seja uma situação alógica onde as personagens agem de uma maneira irracional para tentar fazer uma crítica a vida real. 

                           Romeu Waier tem uma direção ousada, e alcança boa repercussão junto ao público, formado em sua maioria por jovens. As figuras plásticas são muito interessantes e a trilha, (não sei quem assina), é perfeita. Guilherme Goi e Nara Medeiros se destacam bastante e a sutileza dessa ultima parece ter sido coreografada, a convenção dos calçados é perfeita, talvez para não haver duvidas junto a assistência, já que há um universo de estranhamentos, os mortos poderiam ser cobertos com um lençol branco e ao saírem caminhando atrás da enfermeira, se assemelhariam a fantasmas, realçando sua condição.  Há no casal de pais, Eliani Aléssio e Romeu Waier,  um exagero, que causa um certo distanciamento, e que é característica do estilo Waier de fazer teatro, não chega a prejudicar o trabalho, mas talvez a interpretação mais realista conseguisse operar com mais afinco o estranhamento proposto pelo gênero teatral. 

                              Nicole e Yasmim estão ótimas, aliás toda a direção de Romeu Waier se cumpre muito bem, e se estende mesmo a figuração. Talvez Stefany e Julia possam dedicar um pouco mais de atenção à técnica vocal, para que os agudos não soem falsos. 

                            Matheus Freitas é uma interessante aquisição ao teatro, esperamos que queira aprender e buscar mais. No papel de Zap, o jovem acaba carregando todo o espetáculo e sua construção é bastante funcional como protagonista positivamente ingênuo.  

                             A estética é bem resolvida, e o pódio significativo. A fábula antibélica é extremamente contemporânea, já que as ações humanas já incluíram entre nossas vidas, tantas situações conflitantes que acabaram por ser banalizadas e diluídas na vida cotidiana, há no entanto a necessidade de sempre que se trabalha com o absurdo, pensar em ser muito próximo ao realismo para que a plateia compreenda que não se trata de realismo fantástico ou de teatro infantil, outra questão interessante é a capacidade de assimilação cultural de cada público. Uma plateia de teatro recebe diferentemente uma obra do que uma plateia não iniciada. Nesse sentido Waier é vanguarda para Panambi e mesmo que não seja tão compreendido agora, está fazendo um grande trabalho de contribuição à arte e aos futuros artistas. Parabéns a Sra. Tépan que carrega uma intensidade digna de uma grande atriz.

                               Para encerrar, torçamos que logo tenhamos outros trabalho tão contundentes da equipe.


                                  Cléber Lorenzoni

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