O trabalho do ator é algo efêmero por natureza, impalpável e rapidamente esquecível, até por isso esse crítica goste de fazer esse testemunho, que ficará para a posteridade, como único arquivo do que foi a maravilhosa dedicação dos artistas do Màschara sobre o palco. Uma arte tão rapidamente esquecível, acaba por carregar um estigma de superficialidade, como se fosse uma arte menor por assim dizer. Ora, se os próprios atores muitas vezes a tratam como algo passageiro, claro que o mundo ao seu redor também teria para com ela, um certo preconceito. Atores tem como bagagem, sua capacidade de arrastar plateias, seu élan, suas potencias físicas sobre o palco. Tudo considerado pueril. Se perguntarmos agora para uma atriz, quais suas capacidades? Quais seus conhecimentos? Certamente ela não saberia valoriza-los como deveria, como poderia, por que os próprios atores, na maioria das vezes, julgam como "pouco" aquilo que carregam.
E é essa sensação de que a profissão é passageira, pueril, impalpável, que faz a classe ser pouco respeitada. Veja por exemplo o caso das feiras de livros. Com a participação do SESC, as feiras de livros, vem a anos, fazendo um serviço de singular importância junto aos artistas, gerando trabalho, e fazendo a economia criativa crescer. Ao mesmo tempo, em que as cidades pequenas e prefeituras, através de suas secretarias de cultura ou educação, tentam viabilizar a arte, sabe-se muito pouco, conhece-se muito pouco da realidade das cias. do interior do RS. Suas batalhas, suas lutas por valorização. Ao mesmo tempo há o caso dos iniciantes que mal sabem pisar em um palco e já se comparam à cias. profissionais. Claro que iniciantes devem se valorizar, mas qual é o balizador? Como saber quando um grupo de iniciantes já merece ser considerado, e remunerado?
Por isso o Máschara tem um sistema, que prioriza o crescimento, o preparo dos jovens. No elenco do primeiro escalão, atores já conhecidos e de currículo invejável. Cléber Lorenzoni e Renato Casagrande. Ao seu lado, atrizes que vem crescendo e se destacando, Antonia Serquevitio e Clara Devi, e no grupo das iniciantes, Carol Guma, que já possui uma trajetória interessante e a mais jovem aquisição: Roberta Teixeira. No Máschara, antes de tudo se pensa em qualidade do trabalho, em criar a possibilidade do jovem artista aprimorar seus talentos.
Lili Inventa o Mundo é um espetáculo de 2006, inspirado na obra do poeta Mario Quintana e que sempre buscou ofertar ao público possibilidades de viajar na ludicidade. Do elenco inicial, mantém-se apenas Lorenzoni, que entra no palco com o peso de um poeta de anos tentando irradiar o cênico. Da segunda formação Casagrande com uma energia invejável, o Mathias do ator consegue prender a atenção de todas as crianças, grande é sua possibilidade fonética e física. Devi já pertence à quarta formação e nos dá uma Lili menos poetisa e mais atriz. O que é bom e ruim. Não é da obrigação de uma atriz transformar-se em seu projeto de palco, mas cada ator deve sorver ao máximo um universo e então se transformar. Serquevitio precisa buscar em Malaquias o ridículo, a palhaça dentro de si, já que Sr.Poeta e Malaquias são dois bufos, ou dois clowns. Guma entra bem em cena, firme, intensa, o que lhe falta talvez, seja um transcender , que virá com o tempo, com estudo. É sem duvida uma atriz dedicada e esforçada, mas é importante lembrar qual caminho busca. Teixeira está chegando, e faço votos que trilhe os caminhos lindos da arte que outros trilharam, para nunca se frustrar.
Existem espetáculos que são datados, existem narrativas que cumprem momentos, falar de Quintana em feiras de livros é algo que sempre será atual. Talvez as linguagens, as possibilidades pudessem se adaptar, bonecos, linguagens, formas... Questões de direção. De todo, o espetáculo deixou as crianças com água na boca e alguns atores frustrados. A arte é assim mesmo, ela é dada em gostas, gotas que transformam, mas ainda há muito para se transformar... Foge às nossas mãos, ter domínio sobre o que vai até o público, como vai, e como será administrado.
Parabéns a capacidade rápida de decisão, de tira e põe e pega ou abre mão de microfones. São climas, percepções, filigranas, que os anos de teatro conferem.
O melhor: A energia com que a equipe adentrou o palco
O pior: A desorganização da feira que permitiu que quase toda o público levantasse deixando os atores órfãos.
Lili Inventa o Mundo (2006)
Direção e roteiro Cléber Lorenzoni
Elenco: Clara Devi
Cléber Lorenzoni
Renato Casagrande
Antonia Serquevitio
Carol Guma
Roberta Teixeira
Contra-regragem - Kleberson Ben
A rainha
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