Cléber Lorenzoni trouxe ao Cena Viva
2017, Festival de Teatro de Santa Rosa, RS, o espetáculo infantil CASTELO
ENCANTADO, representando a cidade de Cruz Alta, RS. Nem no folder do Festival e
nem na ficha de inscrição/avaliação que os avaliadores receberam, há registro sobre
o grupo, que creio ser o Grupo Teatral Máschara, há mais de 20 anos conduzido
por Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge.
CASTELO ENCANTADO é um espetáculo
feito sob encomenda para o Grupo, que, uma vez mais, mergulha no universo de
Érico Veríssimo. Desta feita, a partir do mote da menininha que adormece e é
transportada para um mundo de sonhos e magias, tal e qual alices, dorothys e
outras tantas, menos cotadas, marcando o início de uma nova etapa em suas
vidas, ou encerrando um ciclo já definido. No caso, Rosa Maria, ao ultrapassar
a barreira dos sonhos, é envolvida por personagens da ficção infantil de Érico
Veríssimo, como o Avião Vermelho, o Ursinho com Música na Barriga e outros
mais.
A encenação é simples, porém eficaz.
O Grupo incute ao trabalho um padrão de qualidade conseguido através da
seriedade com que faz seu trabalho no decorrer dos anos, e do qual não deixa a
'peteca' cair. Por tratar-se de uma adaptação de literatura e não de
dramaturgia, o resultado ainda está um pouco verborrágico, com muitas explicações
e repetições desnecessárias. À medida em que o espetáculo foi apresentado
sábado pela manhã, sem a presença de escolas, portanto, a receptividade ficou
aquém das expectativas, já que não contaram com o apoio e o envolvimento
espontâneo das crianças, que são a sua razão de ser. Mesmo assim, o Grupo não
titubeou.
As intervenções da trilha sonora,
realizadas ao vivo, com mais efeitos do que, praticamente, melodias, são
rápidas e certeiras. Na medida certa. Penso até que, cantar canções propriamente
ditas, em alguns momentos é até dispensável, devendo o Grupo investir nas
intervenções sonoras que, criam um ambiente dramático mais do que adequado.
Há naturalidade e talento em todos
os componentes do elenco. Deve-se refletir sobre a concepção da personagem Rosa
Maria, que ainda está estereotipada em sua meninice, chegando, às vezes, ser mais
artificial que os personagens de ficção que ela evoca. Ela deve ser, ao meu
ver, o contraponto deste universo de ilusão, por ser a mesma, real. Creio que
tal atitude criaria um ponto de identificação bem mais forte com os
espectadores-alvo.
Sei ser muito complicada a
realização de espetáculos encomendados, pois, normalmente, quem encomenda já
tem todas as soluções na manga, delegando aos artistas cumprir com todas as
concessões por eles (quem encomenda) impostas. No caso de CASTELO ENCANTADO,
concessões não são evidentes, tendo o Grupo, com seu talento e sabedoria,
tirado de letra tais empecilhos, se é que eles houveram.
Há muitos anos não assistia a um
espetáculo do Grupo Teatral Máschara e, fico feliz, ao perceber, que Cléber
Lorenzoni (e conseqüentemente o Grupo) não se deixou envolver por armadilhas e
artimanhas de modismos passageiros, trilhando uma trajetória ímpar dentro do
teatro gaúcho, demarcando limites e impondo-se com sua dedicação e brilhantismo
fora do comum. Cléber Lorenzoni é, no bom (e por que também não no mau?)
sentido, a grande 'diva' contemporânea, o dândi do teatro realizado no interior
do Estado. E, com o seu talento, este posto seria, certamente, mantido, onde
quer que fosse.
Antonio Carlos Brunet
Junho de 2017.
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