Crítica do Espetáculo Castelo Encantado por Antônio Carlos Brunet


            Cléber Lorenzoni trouxe ao Cena Viva 2017, Festival de Teatro de Santa Rosa, RS, o espetáculo infantil CASTELO ENCANTADO, representando a cidade de Cruz Alta, RS. Nem no folder do Festival e nem na ficha de inscrição/avaliação que os avaliadores receberam, há registro sobre o grupo, que creio ser o Grupo Teatral Máschara, há mais de 20 anos conduzido por Cléber Lorenzoni e Dulce Jorge.
            CASTELO ENCANTADO é um espetáculo feito sob encomenda para o Grupo, que, uma vez mais, mergulha no universo de Érico Veríssimo. Desta feita, a partir do mote da menininha que adormece e é transportada para um mundo de sonhos e magias, tal e qual alices, dorothys e outras tantas, menos cotadas, marcando o início de uma nova etapa em suas vidas, ou encerrando um ciclo já definido. No caso, Rosa Maria, ao ultrapassar a barreira dos sonhos, é envolvida por personagens da ficção infantil de Érico Veríssimo, como o Avião Vermelho, o Ursinho com Música na Barriga e outros mais.
            A encenação é simples, porém eficaz. O Grupo incute ao trabalho um padrão de qualidade conseguido através da seriedade com que faz seu trabalho no decorrer dos anos, e do qual não deixa a 'peteca' cair. Por tratar-se de uma adaptação de literatura e não de dramaturgia, o resultado ainda está um pouco verborrágico, com muitas explicações e repetições desnecessárias. À medida em que o espetáculo foi apresentado sábado pela manhã, sem a presença de escolas, portanto, a receptividade ficou aquém das expectativas, já que não contaram com o apoio e o envolvimento espontâneo das crianças, que são a sua razão de ser. Mesmo assim, o Grupo não titubeou.
            As intervenções da trilha sonora, realizadas ao vivo, com mais efeitos do que, praticamente, melodias, são rápidas e certeiras. Na medida certa. Penso até que, cantar canções propriamente ditas, em alguns momentos é até dispensável, devendo o Grupo investir nas intervenções sonoras que, criam um ambiente dramático mais do que adequado.
            Há naturalidade e talento em todos os componentes do elenco. Deve-se refletir sobre a concepção da personagem Rosa Maria, que ainda está estereotipada em sua meninice, chegando, às vezes, ser mais artificial que os personagens de ficção que ela evoca. Ela deve ser, ao meu ver, o contraponto deste universo de ilusão, por ser a mesma, real. Creio que tal atitude criaria um ponto de identificação bem mais forte com os espectadores-alvo.
            Sei ser muito complicada a realização de espetáculos encomendados, pois, normalmente, quem encomenda já tem todas as soluções na manga, delegando aos artistas cumprir com todas as concessões por eles (quem encomenda) impostas. No caso de CASTELO ENCANTADO, concessões não são evidentes, tendo o Grupo, com seu talento e sabedoria, tirado de letra tais empecilhos, se é que eles houveram.
            Há muitos anos não assistia a um espetáculo do Grupo Teatral Máschara e, fico feliz, ao perceber, que Cléber Lorenzoni (e conseqüentemente o Grupo) não se deixou envolver por armadilhas e artimanhas de modismos passageiros, trilhando uma trajetória ímpar dentro do teatro gaúcho, demarcando limites e impondo-se com sua dedicação e brilhantismo fora do comum. Cléber Lorenzoni é, no bom (e por que também não no mau?) sentido, a grande 'diva' contemporânea, o dândi do teatro realizado no interior do Estado. E, com o seu talento, este posto seria, certamente, mantido, onde quer que fosse.

Antonio Carlos Brunet

Junho de 2017.

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