1196 - O Castelo Encantado (tomo 136).

 Espetáculo teatral com cara de contação de historia.


Quando um ator entra em cena, ele traz consigo sua verdade, seu existir, sua potencialidade técnica, aquilo que chamo de "aparato cultural" e o seu élan. Todas essas coisas juntas formam O artista sobre o palco e o credenciam como ator ou atriz dignos de nosso aplauso. Contadores de historias todos somos, no dia a dia, em nossas casas, na roda de amigos. É uma capacidade que herdamos de nossos ancestrais. 

A capacidade comunicadora é uma das quais, aliás, mais admiro em um artista das cênicas. O ator que pisa no palco com presença, com domínio. Ator que sabe o que está fazendo, que encontra formas de dizer seu texto. Ator que não se nega em sua função social.

O espetáculo O Castelo Encantado já têm bem mais de cem apresentações e praticamente tudo já foi dito, porém com novo elenco, mudam-se um pouco as regras do jogo. Mudaram-se aliás figurinos, partituras e triangulações. No palco oito atores, (aspirantes e veteranos) nos apresentaram os já conhecidos personagens da obra infantil de Verissimo. Destaque para o Ursinho com música na barriga, Fernando do aviãozinho vermelho e Rosa Maria. Como papel principal a estreante Ana Clara Kraemer que já despontou lá na Paixão de Cristo com força, com energia, com entrega. Ela está em cena simplesmente o espetáculo inteiro, o que é um grande desafio. E ao lado do enorme ator Renato Casagrande. Volumes e corporal precisam claro ser trabalhados, mas é a entrega que nos enche os olhos. 

Renato Casagrande mantém a energia e o brilhantismo no contato com as crianças, enquanto Cléber Lorenzoni, interprete de três personagens e um tipo, parece comandar o palco mesmo na cena. Serquevitio e Devi parecem tímidas nesse espetáculo. É necessário quebrar a casca, transcender, caso contrário o teatro infantil nos cansa em dobro, ou seja, o ator de teatro infantil precisa encontrar prazer em seu oficio, para que toda a fúria febril que esse teatro pede, não lhe seja um fardo. 

Nicolas Miranda tem uma mordida, uma presença, que muito já elogiei, penso que a interpretação do Senhor dono do circo pudesse ser mais circense, e é preciso que o ator cuide par anão deixar sua persona invadir tanto o amago da personagem. O que não acontece com Rafael, que arranca boas risadas do público. 

Outra estreia interessante é a de Kleberson Ben, o jovem ator contracena de forma legal, mas precisa de maior preparo para um espetáculo que mistura farsa, vaudeville e comédia dell art. 

Bonecos, mascaras, interpretação animalescas, kikiprocós e muito mais tornam o espetáculo atraente, versátil, ágil e lindamente divertido. A plateia formada por mais de trezentas crianças, foi heroica em um espaço abafado e apertado. Apesar de alguns pouco momentos em que empolgada demais pelos próprios personagens acabou por atrapalhar com ruídos, ainda assim manteve-se interessada e atenta até o final;

Quem observa o teatro de longe, não vê o que acontece atrás das coxias, atrás das cortinas, nos camarins... há poucos dias estava instalado em Cruz Alta um grupo de atores de uma companhia de Circo-teatro. um trabalho bonito e digno, e me peguei pensando na grande arte de conviver, nas dores e prazeres de se dormir e acordar com seus colegas de trabalho, todos os dias durante 365 dias do ano. Assim acaba sendo também a relação entre os atores do Máschara, onde o que rege é a hierarquia desenvolvida por seus "anciãos" e certamente muito difícil e complexa de ser digerida. Interesses diferentes, pontos de vista diferente, ambições diferentes. Como se lida com tudo isso, e ainda se faz um bom trabalho no final do dia? 

Para isso a parte técnica acaba tendo importância primordial. Fabio Novello e Ellen Faccin devem certamente ser bons colegas e trabalhar em uníssono. Ela aprendendo com aquele que sabe sobre o assunto, sendo grata e disposta, e ele sendo um conselheiro pontual, ensinando e criticando quando necessário. Parabéns a essa dupla que com pouco aparato técnico consegue dar conta de nos entregar algo no mínimo digno. 


O melhor: O trabalho quase equilibrado do elenco como um todo.

O pior: A plateia grande demais quase colocando em risco a capacidade do elenco.


O Castelo Encantado

Texto e Direção : Cléber Lorenzoni

Elenco: Ana Clara Kraemer (***)

             Clara Devi (**)

             Antonia Serquevitio (**)

             Nicolas Miranda (**)

             Kléberson Ben (*)

             Cleber Lorenzoni 

             Fabio Novello 


Técnica Fabio Novello(**)

              Ellen Faccin (**)

             


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