Quantos espetáculos alcançaram esta marca? 140 apresentações? Pouquíssimos, pelo simples fato de que espetáculos criados no interior, tem vida curta. Os motivos são muitos: atores e atrizes que passam, técnicas que vão ficando ultrapassadas, projetos que vão surgindo e engolindo outros. No entanto, o Máschara tem um jeito de manter suas narrativas, de continuar pulsando com seus trabalhos e levando-os até o público. Contar a obra infantil de Erico de uma forma lúdica, tornando o conto infantil em narrativa dramatúrgica, é por si só um grande mérito. Por outro lado, há o mérito de manter-se, de existir apesar de todos os pesares. Quando assisti lá em 2005 ao espetáculo, a atriz Lauanda Varone era a intérprete de Rosa Maria, muitas cosias mudaram, pois a arte é e deve ser viva. A cada mudança de elenco pelas qual o espetáculo passou, novas mudanças se somaram, a experiência humana mudou, a ludicidade mudou, os públicos mudaram, a sociedade como um todo mudou. Assim é o teatro, mutável, adaptável.
Um dos méritos do espetáculo O Castelo Encantado, é a generosidade do elenco, que tem a frente dois bons atores, tanto Lorenzoni quanto Casagrande, entram em cena pela ação dramática, e é a ação dramática quem rege sua pulsação cênica. Hoje em dia a maioria dos atores não sabe muito bem o que é ação dramática. Vejo muitos atores que querem contar o que querem fazer em cena. Ora, o palco é o lugar de fazer, não de dizer. Quando um ator sobre o palco tenta me dizer, eu perco o interesse, eu quero ver acontecer
Quero ver os objetivos! O objetivos de um ator ou uma atriz, não podem ser por exemplo, fazer bem feita uma cena. Ou saber seu texto, ou se mexer com energia. O objetivo deve ser sempre: contar uma boa historia. Uma ação que se desprende do palco para a audiência. As vezes um ator, repete seu trabalho todas as noites, tentando ser bom, tentando repetir o feito da semana anterior, Ora, esse não é o objetivo. Vejo atores e atrizes que se perdem tentando mostrar habilidades que aprenderam, também não tenho interesse. E é por isso que não costumo ir ao teatro. Por que? Porque boa parte dos atores quer subir ao palco para mostrar mil coisas: Olhem onde cheguei! Vejam o que consigo fazer! Vejam como sou bom!- Isso me afasta muito do teatro. O único objetivo dos atores, deve ser interpretar bem sua personagem. Até quando o ator luta para ser ouvido do palco, ele perde de exercer sua verdadeira função. Falar alto, triangular, ter energia, são obrigações do ator, sua função verdadeira é dar vida às narrativas.
Em O castelo Encantado, Lorenzoni e Casagrande conduzem a meu ver o espetáculo e têm o poder admirável, de levá-lo para onde entenderem. Sendo assim, suas improvisações podem desencadear méritos ou desastres, dependendo do quanto os outros atores estão mergulhados na obra. Antonia Serquevitio tem crescido muito em cena, talvez pela quantidade de espetáculos nos quais está envolvida, e é sem dúvida, a repetição, a prática e o hábito que vão somando ao interprete suas capacidades técnicas. Ana Clara Kraemer segurou o espetáculo, muito pelos alicerces ao seu lado. Clara Devi aprece não aparecer, e poderia se dizer que isso se dá muito, por O Castelo Encantados e rum espetáculo masculino. No entanto, a direção de Lorenzoni é muito maleável, muito disposta a agregar e dar espaço aos atores.
Gabriel Ben e Clara Devi são bons de improviso, e Devi tem uma presença admirável em cena, mas precisa rever sua postura vocal. Cada ator não "pronto" se é que existe essa nomenclatura, mas enfim, cada ator não pronto, precisa estudar muito seu texto, compreender sua própria personalidade cênica. Compreender também os objetivos de cada personagem, para não promoverem ações que falem contra seus personagens. Basílio quer ser borboleta, os porquinhos querem liberdade, o ursinho quer ? não parece claro... Fernando quer ser respeitado. O Anão quer ser amado de verdade, Rafael quer aprender coisas (não fica claro). A menina Rosa Maria aprende que os livros são ótimos companheiros. Aprende?
Um dos momentos altos, foi ver os atores com domínio da público. sabendo conter e ao mesmo tempo excitar. Alguns equívocos têm que ser resolvidos, algumas faltas de atenção. De qualquer forma, nada que com um pouco de estudo, dedicação e prática não se resolva.
A trilha sonora de Castelo poderia ser aprofundada, temos um ator com um instrumento em cena, mas ao mesmo tempo há silêncios e trilhas cantadas... O figurino é clean, limpo, talvez pudesse ter algo relacionado àquela cortina... sabemos que ela vem para auxiliar na troca de roupas. Rosa Maria é curiosa e corajosa, mas sinto falta que fique mais clara sua catarse.
O melhor: A energia positiva da equipe, que se esmerou para produzir um bom trabalho.
O pior: alguns problemas na parte técnica do espetáculo que quase colocaram em risco o impecável trabalho do Máschara.
O Castelo Encantado
Texto e Direção - Cléber Lorenzoni
Elenco:
Ana Clara Kraemer (***)(**)
Kleber Lorenzoni
Renato Casagrande
Antonia Serquevitio (**)(***)
Clara Devi (*)(**)
Gabriel Ben (**)(**)
Carol Guma (**)(**)
Romeu Waier (*)(**)
Roberta Teixeira (***)(**)
Felipe Brandão (**)(**)
Ana Luísa Kraemer (**)(**)
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