1247- O Incidente - (tomo -92)

                     Sempre que vou assistir um espetáculo, do grupo ou companhia que for, me pego rotulando, as temáticas, os gêneros, os formatos ou as linhas de um espetáculo. Também me deparo com a obvia percepção de que não há porque rotular o teatro, há sim que se sentir, deixar tocar, permitir viver aquela experiência. Uma experiência, aliás, única, que nos tempos atuais é algo poderoso. Você se dirigindo ao teatro, onde pessoas fazem coisas para pessoas. Onde você se assusta, se surpreende, se choca, se emociona, se diverte... O teatro tem esse lugar único, que continua ancestral, do homem se esforçando para falar algo interessante sobre o tablado, algo que tenha o poder de principalmente e talvez primeiramente, prender o olhar da assistência, o ouvido, a atenção mesmo. 
                       O teatro divide-se em centenas, talvez milhares, de técnicas, escolas, linguagens... Teatro do absurdo, teatro apocalíptico, teatro da crueldade, e teatro pós guerra, são algumas das correntes que penso quando assisto a versão do Grupo Máschara de O Incidente, um texto intenso, humano, que nos faz pensar sobre as dores, sobre as lutas e sobre a injustiça. Claro tudo isso de uma forma alegórica e dependendo do dia, quase fabular. A que me refiro? Talvez, as vezes, a obra de Erico Verissimo, tão bem interpretada, nos deixe longe de conseguir alcançar algum tipo de catarse. Será que compreendemos o que realmente compreendemos o lugar que o regime ocupou durante a ditadura, será que entendemos as complexidades comportamentais de cada personagem, ou da realidade proposta por Verissimo? 
                        Quanto aos atores, algumas grandes interpretações, outras mais discretas, tímidas. Os atores do primeiro escalão têm grandes textos, bem pronunciados, sincopados até, de forma agradável de ouvir. Os atores em Status três, podem estar mais concentrados, mais conhecedores de suas funções. Não temos em cena nenhum interprete em status dois, por isso até, os atores menores devem se esforçar para preencher essas lacunas. O Máschara criou um formato muito organizado e coerente, baseado na criatividade, esforço e técnica de seu elenco. Essa dicotomia é vista em cena, e talvez seu equilíbrio, ou a busca do mesmo, seria proveniente a um staff de sucesso. 
                        Os atores em status quatro precisam de mais profundidade cênica. O corpo da interprete de Erotildes está firme, composto. No entanto falta no ator de Pudim, maior compreensão da obra e de sua personagem. Em status cinco, Quitéria e Barcelona estão intensos, vívidos. Talvez seja na partitura que se encontre algum déficit. O Incidente apresenta um ritmo poderoso e firme. Quem dá esse ritmo, quem o norteia? O palco é reflexo do ensaio, da postura de uma artista, sua busca e conquistas. Reflexo do camarim, da vida ao seu redor. Tudo está, ou deve estar ali. 
                           Ouso pedir aos atores que façam um exercício de auto análise, sobre o que entra e o que sai, o que se pede, e o que se devolve, o que se aprende e o que se ensina, o que se recebe e o que se dá em troca... O palco pede muito, mas dá muito aos atores e atrizes. 
                             Nas questões técnicas, esforço amiúde dos três jovens contrarregras, no entanto, no quesito maquiagem, muito pouco, pescoços sem maquiagem, nada de escatologia, salvo alguns detalhes dos atores  em status 1. Torçamos que os futuros atores e atrizes do Máschara se tornem logo atores e atrizes de verdade, com técnica exímia, com entrega e estudo, ou quando os últimos dessa geração passarem, teremos apenas uma pequena réplica do que foi o Grupo Máschara. 
O Melhor: O esforço do elenco em apesar de poucos ensaios, conseguirem produzir algo intenso e seguirem o diretor e o ritmo proposto.
O Pior: A maquiagem mal acabada, algumas atrizes falando baixo, e a falta de acabamento em algumas interpretações.

Arte é vida

O Incidente
Roteiro e Direção - Cléber Lorenzoni
Elenco- Cléber Lorenzoni
             Renato Casagrande
             Clara Devi 
             Antonia Serquevitio
             Romeu Waier 
             Douglas MAldaner 
             Carol Guma 
            Junior Lemes 
             Ana Clara Kraemer 
             Roberta Teixeira 
            Kleberson Ben 
             

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