Sempre que vou ver um espetáculo onde o elenco fará uso do microfone, fico preocupada, pelos intérpretes e pelo público. Teatro precisa ser ouvido, sem intromissão de nada que coloque em risco a semiótica, a capacidade da plateia em absorver a ideia!
Dulce Jorge, Cléber Lorenzoni, Fabio Novello e Renato Casagrande, brilham em um espetáculo que tem muito da velhice, envolvida. Um espetáculo que divertiria qualquer idade, e que tem um simplicidade laureável, uma simplicidade que se utiliza da ingenuidade, da delicadeza e dos sentimentos das pessoas para tocar o público. Risos, dores, medos, energias.. Tudo está em cena a serviço do público. Por outro lado é importante pensar em uma única premissa: não era um momento de teatro, não era um acontecimento de artes cênicas, não era "mise en scene". Quando as pessoas saem de casa para participar de um evento e no meio do mesmo, haverá um teatro, a função deste se transforma. Passa a ser performance, pois as convergências necessárias para o "evento teatral' SOFREM DEMASIADAS INTERFERENCIAS.
O teatro é um acontecimento que para alcançar seus objetivos precisa dos regramentos necessários ordenados com coerência e técnica, ou seja em um evento há tantas camadas, tantos objetivos que o objetivo teatral ficará em segundo plano. O teatro estará em função, não do teatro, mas do objetivo do evento. Nesse dia por exemplo o evento se tratava de empoderamento feminino, orgulho de ser mulher, etc., então os objetivos todos que estão no espetáculo em segundo plano, perdem força, realçando-se somente a figura feminina.
Dulce Jorge mudou a música inicial de Beatriz, o que foi positivo para o espetáculo, porém, ainda dá para ser mais intensa nesse momento tão importante para a narrativa. Lorenzoni esteve muito bem, porém as vezes parecia tenso com algo, talvez com a dificuldade em chegar na plateia devido ao espaço muito grande, a claridade advinda da área externa, ou o microfone com ruídos.
Fabio Novello e Renato Casagrande repetiram a dobradinha que sempre dá certo, mas talvez certas gags tenham ficado aquéns, devido a falta de ensaios.
Foi bastante interessante ver na plateia, Raquel Arigony, a primeira interprete de Beatriz. Essas conjunções são emocionantes! Sabendo também da partida do ator Fábio Novello que está indo para outras paragens, o espetáculo se tornou ainda mais emocionante. Teatro é arte efêmera em todos os sentidos, tudo é passageiro, inclusive os atores e atrizes. Acredito que não tenha sido a ultima inserção do espetáculo, mas certamente nunca mais será o mesmo.
Kléber Lorenzoni brilhou em cena como sempre, mas me soou nervoso, tenso, preocupado. Talvez porque visse seu sonho de um espetáculo completo e redondo, ir se dissipando, escorrendo entre suas mãos. O teatro, as vezes é apenas a sala de espera da pizza, o meio e não o fim. É preciso tomar cuidado para que o espetáculo não caia em meio ao vão, no ato de se prostituir para existir...
Dona FLica e seus dois maridos
Elenco: Kléber Lorenzoni, Dulce Jorge, Fabio Novello e Renato Casagrande
Clara Devi (**)
Ana Clara Kraemer (***)
Antonia Serquevitio (***)
Gabriel Kleberson (**)
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