1200-O Grande Circo Mágico (tomo 17)

 Mas afinal o que é ser bom no palco?


Essa pergunta é recorrente... Embora Artaud vá dizer que o teatro não se confina num palco, mas que pode se realizar em uma fábrica ou em uma conferência, por exemplo, e que pode se metamorfosear em qualquer situação. Ainda assim, essa senhora lhes pergunta, o que é ser bom? Para Stanislavski, ser bom tem a ver com diminuir ao máximo a distancia entre ator e personagem, tornando os dois em uma só pessoa. Já Grotowski acha que o ator deve ser um homem de ação, que aceite o desafio de viver sua tradição de forma integral! Eugênio Barba sempre disse que o ator não deve parecer a personagem que representa, mas deve "ser", a personagem que representa... André Antoine por exemplo, costumava dizer que o bom ator era aquele que conseguia desmontar a interpretação tipificada... Meyerhold apregoava que a interpretação devia começar de fora para dentro, dando sempre mais valor ao corpo preparado do que ao texto. Craig (gosto desse) dizia que o teatro ideal é aquele onde o ator deve controlar seu corpo, para que o mesmo não seja afetado pelo seu ego. Copeau insistia na seguinte premissa como regra: “A inteligência crítica, a imaginação, a lealdade intelectual, a perfeita honestidade profissional". Brecht por outro lado nos balança quando diz: O ator é aquele que consegue se distanciar da personagem, mas sem deixar de representá-la de forma fidedigna. Enfim, Baty, Vilar, Ronconi, poderia ficar aqui passeando por dezenas deles e ainda assim não teria chegado a um consenso. Um ator... Um bom ator... Que me convence a ficar, e me convence a voltar, para buscar mais, para beber mais dessa preciosa bebida.
O público de Nova Candelária voltou, para buscar mais, muito embora, o Máschara é que tenha ido. Mas fora chamado é certo. E levou um pout porri, um misto de questionamentos envolto em números circenses, uns bons outros nem tão bons. Já de inicio uma interação que revelava as possibilidades de histrião de Renato Casagrande. Talvez a correria tenha inibido o virtuosismo dos atores, ou mesmo tenha sido uma certa dificuldade em adaptar-se ao palco, ou ainda o eco que se estabelecia pelo ambiente, impossibilitando o valoroso "silencio", tão necessário para a "digestão" do processo criativo. 
De alguma forma, tive a sensação, que a falta de ensaios foi a maior característica que ficou, que se viu. Havia o preciosismo de alguns atores maduros, o esforço visível de alguns jovens e até uma certa letargia em alguns números. 
Claro que ainda assim  fica, ficam informações, passam sensações, acontecem reflexões. Mas quão mais não se alcançaria, quantas mais revoluções dentro do pensamento da plateia, se os números fossem elevados à extrema excelência.
Claro que é importante lembrar que não era teatro, era arte cênica, mas não era teatro. Era circo, precisa ser circo! É preciso colocar-se como circo. "Estar" circo. Estar unido. O circo, mais que o teatro, tem a ver com família, com povos que vagueiam errantes pelo mundo carregando na bagagem um misto de tudo. Um grupo de pessoas que se apoia, onde um estica a mão para pegar algo que o outro derruba. Ser bom talvez tenha a ver com humildade, com estudo, com disponibilidade, com fome de preencher hiatos. Houve muitos hiatos em O grande circo mágico!

O Melhor-Dulce Jorge ter retornado ao Grande Circo.
O Pior- A visível falta de ensaios.

O Grande Circo Mágico
Cléber Lorenzoni
Renato Casagrande
Dulce Jorge
Fabio Novello
Clara Devi  (**)
Antonia Serquevitio (**)
Romeu Waier (**)
Nicolas Miranda (**)
Kleberson Ben (**)
Ana Clara Kraemer (**)
Ellen Faccin (**)
Roberta Teixeira 


A Rainha

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