1189/1190/1191 - O Menino do PAstoreio -(tomo 16,17,18)

 Teatro a mil com chuva


                                           Nos dias de hoje eu sempre me pergunto por que ainda vamos ao teatro, e mais, o que nos leva ao teatro. Podemos ser rasos, e simplesmente assinalar que o motivo é amarmos o teatro, ou compreendermos sua importância. Mas é no momento em que o espetáculo se encerra, que você vê as pessoas levantando, que você se dá conta do que o teatro fez, do que ele proporciona, propõe, compõe. 

                                Quando o diretor chega na beira do palco, e nos diz, mudamos a lenda de Negrinho do Pastoreio, para Menino do Pastoreio, seu gesto não passa desapercebido no panteão dos corajosos, pois mudar o nome de uma lenda centenária, é uma iniciativa laureável. Seu texto, inspirado em Lispector e José Simões Netto, vai sendo introduzido de maneira leve, delicada e doce. O dramaturgo contextualiza suas escolhas e nos dá sinais de como ele gostaria de ver as questões tratadas no espetáculo. Nerencio por exemplo é filho da patroa de tia Tê e Olga a menina "branca", é a sobrinha da criada. Essa simples mudança diz muito. As crianças que em meio a brincadeiras falam de Napoleão e de Colombo, foram certamente ensinadas em um espaço que valoriza a leitura e a historia, e é delicioso ver os pequenos na plateia se dando conta de vultos históricos que eles aprendem na escola. É como se tudo criasse vida. Vida. Vida. Vidas... é disso que se trata A Lenda do Menino do Pastoreio. 

                              Quando assisto o espetáculo, passeio também pelo divino, por questões que envolvem questões espirituais, divinas, e claro o Deus ex macchine... Deus precisa que o menino ache os cavalos, e que prove que é melhor do que Neco, pois tem propósito, e  propósitos falam de honradez e princípios. O menino Nerencio parece ser a reencarnação do menino escravo, ao lado de sua irmã de lutas, Pinguancha. Olga reencarna como sobrinha da empregada, e é o rosto da "Aparecida" que eles veem na tia que os cuida. Devaneios...

                           Há tantas tramas transversais, tantos pilares, tantos questionamentos a serem debatidos no sagrado palco de Menino do Pastoreio, na verdade a chuva atrapalhou um pouco a participação da plateia, e embora a primeira e apresentação tenha sido muito intensa, a segunda da tarde teve uma decaída perigosa. Era como os atores estivessem ali, sem estarem ali. São químicas, já que atores são feitos de energias motivadas por suas emoções. Foi uma curva interessante, uma terra na primeira apresentação do dia, um céu na segunda e um inferno na terceira, e estou falando de energias. Clara Devi foi melhorando a cada inserção do espetáculo, e o jogo se estabeleceu muito bem nas cenas de velhos atores. Nicolas Miranda também se destaca, as vezes parece muito leve é certo, mas consegue produzir grandes feitos da interpretação de Nerêncio.

                         Menino do pastoreio está de volta, para lembrar atores e público, que nunca, jamais, podemos nos sentir no direito de desprezar, machucar ou desprezar o outro, os gregos estão aí para nos ensinar que o dolo ao próximo, provoca o infortúnio dos Deuses, a queda, a torre! E a torre precisa ser protegida, mantida, sempre heráldica, pois ela é a coluna de sustentação ao todo. 

                             

                        

O Melhor: A semiótica e a estética de um espetáculo que é maior que os atores.

O Pior: Tudo o que prejudicou a estética e a semiótica.



A lenda do Menino do PAstoreio

Direção  e Dramaturgia Cléber Lorenzoni

Elenco: Nicolas Miranda

             Cléber Lorenzoni

             Clara Devi

             Renato Casagrande

             Antonia Serquevitio

            Raquel Arigony

            Fabio Novello


Equipe Técnica> Cleberson Ben Borgers

                            Ellen Faccin

                            Ana Clara Kraemer

                


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