Texto O Menino do Pastoreio

 

Prólogo


A luz do palco vai se abrindo, toca uma música africana, no palco pessoas trabalham como em um engenho.
Uma roça, uma lava roupas, uma martela, uma planta etc...


Texto em Jogral:


Coro: Negro! Negro! Negro!
Menino: Eu era criança estava brincando e me chamaram
Coro: Negro!
Menino:
Eu perguntei negro e eles repetiram
Coro: Negro
Menino: E então eu me senti negro e eu não sabia a triste verdade que aquilo significava, mas eles repetiram:
Coro: Negro, negro, negro!
Menino: E eu fui regredindo como eles queriam e retrocedendo e eu odiei os meus cabelos e os meus lábios grossos e eu retrocedi.
Coro: Negro
Menino: Então eu pensei em tudo que tantos como eu passaram, ergui minha cabeça e gritei: Eu não sou negro! Negro é a noite negra é a treva negra é a peste negra é o passado a ovelha negra da família o mercado negro a lista negra, magia negra, negra é a fumaça que sai da queimada eu não, eu sou preto, preto com a tinta preta que pinta tanta coisa bonita, por que eu sou bonito como tanta coisa que existe nesse mundo é boa e bonita. As pessoas gostam de café preto, feijão preto, as pessoas compram um carro preto, não um carro negro, as pessoas ganham na loteria uma nota preta... Eu sou preto!
Menino (Nerêncio): Eu sou preto.

Menina (Olga): Pardo é cor de papel!

Menina (Xiquinha): Moreno é cor de cabelo!

Todos: Existem quatro raças no mundo!

Menino (Nerêncio): Existe Branco

Menina (Olga): Existe Amarelo

Menina (Xiquinha): Existe Vermelho

Menino (Nerêncio): E existe PREETOOOOO

Menina (xiquinha): Eu sou gente!

Menina (Olga): Somos todos iguais!

Todos: Somos todos seres humanos!

 

(Todos vão saindo menos as três crianças.)


Cena I


(crianças brincam no fundo do palco enquanto adultos saem de cena)



Xiquinha - Olga! Pega sua boneca...
Olga - Por que menina tem sempre que brincar de boneca!
Xiquinha - Não tem que brincar de boneca, é que você sempre gostou!
Olga - Pois não gosto mais! Eu quero brincar de batalha, de montar cavalo!
(Olga corre pelo palco montado no cavalo de pau)
Olga- Ihaaa!!!

Olha/Xiquinha- Que nem Nerêncio!

(Nerêncio entra cavalgando no seu cavalinho de pau)
Nerêncio - Adivinhem quem sou?
Olga - Eu sei! Dom Pedro I – Independência ou morte!
Nerêncio - Errou!
Xiquinha - Então deve ser... O do cavalo branco... é...Napoleão Bonaparte.
Nerêncio - Nem perto!
Olga - Já sei...Cristovão Colombo, aquele que descobriu o Brasil!
Xiquinha - E esse tinha cavalo?
Nerêncio - Erraram as duas...Eu sou: Jorge da Capadócia!

Olga- Mas esse é Ogum, a minha tia Te sempre fala dele!
Xiquinha – (ri muito) Daí sim, nem você sabe quem é esse!
Nerêncio - Esse é São Jorge, um soldado do império romano, ele derrotou um dragão...
Olga - Um dragão de verdade?
Nerêncio - O dragão representa toda a maldade que há no mundo! A violência, a intolerância, o ódio...
Xiquinha - O preconceito, o racismo, a ganância...
Tia Tê - A preguiça de tomar banho.
Nerncio^- Mas é cedo tia Tê!
Tia Tê - É nada menino, entrem que essa noite vai fazer um frio de renguear cusco, é bom tomar banho cedo...
Xiquinha - Tia Tê, a Olga pode ficar aqui em casa hoje pra gente conversar e contar causos de noite...
Olga - É madrinha, deixa...
Tia Tê - Não sei, deixa perguntar pra patroa primeiro filha.
Nerêncio - A mãe deixa sim!!!!
Xiquinha - Ai não, perdi minha corrente!
Olga - onde?
Tia Tê - Deve ter perdido nessas arreganhas de correria de vosmecês!
Nerêncio - Viu Pinguancha, perdeu aprontando... (ri)
Xiquinha - Ai não me chama assim, odeio esse nome, é Xiquinha e só!
Tia Tê - Um nome tão bonito e com um significado mais lindo ainda!
Xiquinha - Um nome feio e sem meu cordão com medalhinha...
Olga - O que tinha nele Pin...Xiquinha...
Xiquinha - Nossa Senhora de Aparecida, minha santa pretinha...
Tia Tê - Por que vosmecê não acende uma vela pro menino do pastoreio? Ele campeia e encontra bem ligerito.
Olga - Que menino Tia Tê?
Tia Tê - Um menino escravo, de um estancieiro cheio de onças e meias doblas que era chamado pelo filho do seu dono, de negrinho, só para chinelear ainda mais o mulequinho.
Nerêncio - E por que Pastoreio?

Tia Tê - Por que era um menino que adorava correr pelos rincões, montado no baio, sem espora nem açoiteira - todos saem de cena - Crianças, crianças, para onde foram? sai de cena


Cena II


Neco - Crianças! Crianças, Olga...Mas que inferno...
Olga - Estou aqui Neco, por que você não me deixa em paz?
Neco - O pai não quer você por esses matos só com esses dois criolos...
Olga - Já te falei que eles tem nomes, e além do mais o único perigo por aqui é você.
Neco - Olha maninha, olha o jeito que fala. Pinguancha, te ajeita pra cozinha, o pai quer cear...
Pinguancha - Licença patrãozinho.
Neco - Abusada... E vosmecê Nerêncio, não devia estar nas volteadas com a gadaria?
Nerêncio - O patrão mandou cuidar do trovão!
Neco - Que aconteceu com aquele cavalo?
Olga - Neco, deixa o Nerêncio fazer o trabalho dele...
(Neco se afasta)
Olga - Até amanhã Nerêncio...
Nerêncio - Até...
Neco - Não te quero de conversa com esse escravo!
Olga - Me deixa em paz Neco, me deixa em paz!

Cena III

 

Estancieiro- Vosmecês parem de briga, nunca vi dois irmão se biquiando tanto.
Olga - Pai, não pode ficar andando sozinho por aí, vai acabar trombando em algo...
Estancieiro - Eu tô bem filha, mas esse guri aporreado o tempo todo.
Neco - O senhor me perdoe pai, é o negrinho, sempre fazendo coisa errada, saiu com Pinguancha e Olga pra correr por esses mato perigoso, correndo o risco de encontra cobra, ou onça...
Estancieiro - Vosmecê pare com isso, tá achando que é caudilho, aqui mando eu, e não quero saber de tu ficar implicando com o menino.

Neco-
Olga - Vosmecê fica é com inveja porque Nerêncio monta bem, doma animal xucro;

Estancieiro- Basta!
(Neco sai de cena)
Olga - Pai, não quer se sentar?

Estancieiro - Caminhemos filha, sabe que vosso pai gosta de andar pela estância.
Olga - Pai, fico tão triste com o Neco.
Estancieiro - Não seja tão severa com ele, é meio xucro mas é um guri bão, e um dia vai tomar conta da fazenda e de vosmecê, e até do Negrinho.
Olga - Não gosto que chame o Nerêncio de Negrinho.
Estancieiro - Mas filha, sempre vi os meus pais chamarem as crianças que eles gostavam de negrinho, com carinho. Vosmecê também é minha negrinha (abraça a filha)
Olga- Ai pai, eu sei, mas é jeito que se fala. O Neco fala pra humilhar...pai por que o Nerêncio tem que ser escravo, por que o senhor tem que ser dono de outras pessoas?
Estancieiro - Calma guria, o pai nem tem tantas respostas, demais a mais desde que o pai nasceu que é assim, o pai está velho não pode fazer nada, mas vosmecê e seu irmão são jovens, podem pensar, mudar as coisas...
Olga - O senhor acha justo o Nerêncio apanhar tanto?
Estancieiro - Não quero que batam nos pretos, já disse pra vosso irmão.
Olga - O Nerêncio é tão jeitoso com os animais, com as coisas da estância, ele monta no alazão, no berro d’água e no trovão...
Estancieiro - E corre como um pé de vento por esses campos...Pena que já não consigo mais enxergar tudo isso...
Olga - Pai, eu sinto muito que o senhor esteja perdendo a visão...
Estancieiro - Deixa de choramingo, pelo menos tenho vosmecê que me conta tudo, vosmecê se encanta com as coisas e me conta tudo do seu jeitinho.
Pinguancha - Lincença patrão, o compadre Izidoro está lá na portera...
Estancieiro - Manda Neco abrir e corre chamar Nerêncio, quero ele aqui...


Cena IV


Estancieiro - Olga, vai até a cozinha e ajude a Pinguancha a preparar umas iguarias para o compadre.
(Olga sai)
Izidoro - Tem degrar?
Estancieiro - Oigalê, Entra gauderio, que não tem degrar nenhum!
Izidoro - Não tem degrar mesmo?
Estancieiro - Claro que não home, se aproxega, puxa um cepo e tomar um amargo.
Izidoro - Mas não vai me dar erva-caúna!
Estancieiro - Venha cá cumprimentar esse amigo.
Izidoro - E não tem degrar?
Estancieiro - Me dá a mão aqui que você está cegueta.
Izidoro - Te acalma e não te lasqueia.
Estancieiro - Segura, segura.
Izidoro - Me assenta ali.

Estancieiro - Aonde?
Izidoro – Ali.
Estancieiro - Calma, calma, devagar.
Izidoro - Tem degrar?
Estancieiro - Já disse que não. O que o traz cá a estancia?
Izidoro - Simples meu índio véio, quero te propor uma carreira, meu manga larga, Relâmpago, contra teu Trovão! Em que está pensando o amigo com cara de boi xucro? Não te lembras mais de quando montávamos os dois e corríamos a galope por esses campos deixando no pó os outros cavalos da carreira...Mas o compadre era o melhor... No dia das parelhas não havia pra ninguém e as gentes vinham de todo lugar como em dia de festa de santo grande. A gauchada ficava ensimesmada qual era teu domínio no baio, e tu te
aproximava dele, com tua presença e grandeza de cavaleiro mouro. Lançava a manopla poderosa e laçava-o com exímio domínio. Ao montar corria, corria tanto que o vento assobiava-lhe nas crinas e nas ventas. Era tão rápido e poderoso que só se ouvia o barulho, mas não lhe viam as patas baterem no chão. E não se resumia às canchas, mas às coxilhas e os pastos, por onde o ajojo e a açoiteira faziam zunido cortando o ar.
Izidoro - gargalhada
Estancieiro - E feliz aquele que é livre e com as pernas firmes, os braços fortes e a visão capaz, dislumbra as belezas do mundão de meu Deus, e sob o sol em contato com a montaria, ou na chuva se assim lhe apraz, vagueia cortando os campos e braças de sesmarias...Senhor de si, aaaa feliz, feliz por estar em contato com a natureza que o criador lhe deu e vê-la. chora
Olga entra correndo ao ouvir os gritos do pai e o segura, enquanto o personagem volta a ser velho.
Izidoro - Vamos, vamos meu amigo, não fique assim, não vim para amoação. Vim para propor uma carreira, uma de nossas antigas parelheiras...
Estancieiro - Não sou mais um cuiudo, carreiras ficaram no passado, podemos tentar algo mais sereno, quem sabe um truco!
Izidoro - De dezoito na abertura.
Estancieiro - Pouco pros meus trinta e dois.
Izidoro - Pois peço invido e te lasco no lombo.
Estancieiro - Dou-te flor sem tempo de piscar...
Izidoro - Retruco xambão.

Olga- O que vosmecês estão fazendo aí em cima? Pinguancha, venha me ajudar!

Estancieiro- Olha tu acredita que o comprade Izidoro veio propor uma parelha...
Olga - O Nerêncio, o Nerêncio pode montar pelo senhor...
Izidoro - O negrinho da fazenda?
Olga - Um guri corajoso, inteligente e que entende tudo dos cavalos do meu pai...
Estancieiro - Mas não sei...Teria que colocar um dos peões para correr com ele.
Olga - E a parada poderia ir para ajudar os mais necessitados.
Izidoro - A não, a menina me perdoe, mas a parada vai para o bolso de quem ganhar...
Olga - Seu sovino!
Izidoro - A menina tem que compreender, sou um pobre dono de um pedacinho de terra, e de meia dúzia de gadaria.

Estancieiro - Calma fia, o Nerêncio gosta de montar e é bom na parelha, mandei a Pinguancha chamá-lo e até agora nada...
Izidoro - Então estamos acordados, a peleja fica para domingo, que tal?
Estancieiro - Meu Nerêncio e um de seus peões...
Izidoro - Vou me embora antes que a noite desça, e já não sou guri taludo para montar nessas estradas escuras. Passar bem menina Olga, só me recorde se para sair não tem degrar...
Olga - Não, não tem não senhor.
Izidoro - Tem certeza que não tem degrar?
Olga – Ai, eu lhe acompanho até a saída.

Cena V


Nerêncio- O patrão chamou?
Estancieiro - Sim meu filho, chamei, me responda uma cousa, como está o trovão?
Nerêncio - Bem escovado e nada cabroteiro. Preparado para qualquer parelha que o patrão mandar.
Estancieiro - Vosmecê lembra que te ensinei tudo o que sei sobre montaria, nos meus tempos de legalista, na revolução?
Nerêncio - Sei patrão. E me faz bem cuidar da cavalhada...
Estancieiro - Então me mostre como faz.
Nerêncio - Mas o se patrão não vê, como quer que eu mostre...?
Estancieiro - Não tem por acaso o matungo, um antolho para impedi-lo de se assustar vendo o que não deve...?
Nerêncio - Pois posto o lombilho, segura-se firme a rédea...

Estancieiro - Ou as crinas...
Nerêncio - Faz-se uma pressão no freio do cavalo para ele saber que deve ficar parado, se ele tentar se mover eu digo...
Estancieiro - Eia!
Nerêncio - Pegue as rédeas, a cernelha, crina ou cabo de sela com a mesma mão. A parte de trás da sela deve ser pega com a outra mão. Coloque seu pé no estribo, force se empurrar e passar a outra perna para cima do cavalo. Depois, eu coloco o outro pé no estribo, me abaixo e vejo se se a sela está bem presa.
Estancieiro - E então
Nerêncio - Vou tocando a montaria...
Estancieiro - estalando os lábios
Nerêncio - O cavalo é o melhor amigo de um patrão
Estancieiro - Pois nos carrega por todos os lados da estância, sem reclamar e fazendo um grande trabalho

Nerêncio - O patrão gosta muito dos seus cavalos...Neco aparece no fundo do palco
Estancieiro - Queria que o Neco gostasse dos cavalos...
Nerêncio - O patrãozinho um dia pega jeito
Estancieiro - Menino, vosmecê é que devia de ser meu filho...
Nerêncio - Não diga isso patrão, eu sei bem meu lugar
Estancieiro - Escute quero que prepare o Trovão para uma grande parelha, vais me representar na competição contra o Relâmpago...o manga larga do Izidoro...
Nerêncio - E vamos ganhar patrão
Estancieiro - Acha que dá para vencer?
Nerêncio - Já está ganho.
Estancieiro - Guri bom, prepara tudo para amanhã....
prepara-se para sair
Estancieiro - Vosmecê está aí Neco? Eu posso não ver mais, mas sinto teu cheiro, teu jeito meu filho...
Neco - Eu cheguei inda agorinha mesmo meu pai...
Estancieiro - Filho filho, toma jeito
sai de cena
Nerêncio sozinho em cena se prepara para se retirar...

 

Cena VI


Neco - Quer dizer que eu um dia pego o jeito...?!
Nerêncio - Patrãozinho eu...
Neco - Devia ser o filho do patrão, um negro, filho de um dono de estância
Nerêncio - Patrão eu não...
Neco - Guri bão... vosmecê quer meu lugar, quer ser dono dessa casa, e o que mais?
Olga - Neco? O que foi?
aparece Pinguancha
Neco - Esse negro vai pagar caro por tudo o que me fez, ah se vai.
Olga - Solta ele Neco.
Neco - Se eu te torcer não vai fazer nada...
Pinguancha - Minha mãe Oxum, para com isso patrãozinho
Neco - Agora vai ver...
Olga - Solta, solta
Pinguancha - Solta por favor patrão, socorro!
Neco - Cala boca.

Pinguancha - Socorro patrão
Voz de dentroEstancieiro - Deixa o Nêrencio Neco!
Neco solta Nerêncio e os três saem de cena correndo
Neco - Então vai ter parelha, e esse escravo vai montar o Trovão...o pai confia nele, admira, sente orgulho...Deixa pra eu, esse Nerêncio não vai ganhar a partida, não vai mesmo...

 

Cena VII

 

Pinguancha - Venha meu povo! Venham, venham! Vamos, façam suas apostas! Quem ganhará? Nerêncio ou Elesbão? Se aprocheguem, venham!

Estancieiro – Filha, o compadre Izidoro já chegou?

Olga – Seu Izidoro tá lá na porteira, fazendo a festa.

Estancieiro – Tá com medo, isso sim, de pisar aqui dentro, porque já sabe que vai perder pro Nerêncio. (risos, tom). E Nerêncio, já aprontou os cavalos?

Olga – Nerêncio tá lá, bem concentrado.

Estancieiro – Vou esperar aqui então.

Izidoro – Tem degrar?

Estancieiro – Não tem degrau.

Izidoro – Tem degrar? Não tem degrar, mas tem uns barranco, cheio de buraco.

Olga – Vem aqui seu Izidoro, que eu te ajudo.

Izidoro – Não te lasqueia, que eu quero subir na arquibancada, disseram que fizeram uma arquibancada ali. Me sobe, me sobe...aiaiaiaiai...ai...ai...ai...

Estancieiro – Aonde?

Izidoro – Aonde que tá?

Estancieiro – Aonde?

Izidoro – Ah, é do outro lado. É lá. Lá que tem os cavalo.

Estancieiro – É desse lado?

Izidoro – Não tô vendo nada, tu tá vendo?

Estancieiro – Acho que é do outro lado.

Izidoro – É do outro lado, hmm. Não tamo vendo nada.

Estancieiro – Aonde? Aonde?

Olga – Tragam os cavalos! (  ) De um lado temos o peão Elesbão representando a fazenda Angico. (torcida, palmas, vaias)

Izidoro – Palmas, palmas! É o meu, é o meu, é o meu Elesbão. Olha ali, barbudo, feioso. Ele vai ganhar, vai mostrar como é que faz.

Olga – E do outro lado temos o peão Nerencio representando a fazenda Santa Fé. (torcida, palmas)

Estancieiro – Êeeee, vai Nerêncio! Nerêncio com os pé que é um trovão. Vai lá Nerêncio.

Olga – Preparar...dou-lhe uma, dou-lhe duas...

Izidoro – Pára com isso, vai logo!

Olga – Dou-lhe três!

(Torcida)

Estancieiro – Quem é que tá ganhando fia?

Olga – O Nerêncio meu pai.

Izidoro – Apura Elesbão, senão vou te quebrar essa tua cara. Vamo Elesbão.

(Cobra é chutada para o palco pelo Neco) – aparece só o pé. Nerêncio cai.

Izidoro – Olha, olha, o negrinho caiu, aproveita Elesbão e ganha agora! Aproveita Elesbão!

Elesbão ganha.

Izidoro – Êeeee, Elesbão ganhou a corrida. Corrida justa! Justa e honesta! Me dá aqui meu dinheiro antes que queiram dar pros pobre. Olha ali, olha ali, até cobra tem. Vamo levá essa cobra e fazê um churrasco. Anda, anda, vamo embora antes que queiram nos roubar o dinheiro Elesbão, anda, vamo!

Olga – Pai, o senhor tá bem?

Estancieiro – Ai minha filha, eu tô passando mal, me leva para casa fia.

Olga – Pinguancha, cuida do Nerêncio que eu vou levar o pai lá para dentro.

 

Cena VIII

 

(Pinguancha cuida Nerêncio)

 

Neco – Pinguancha, o que aconteceu? Nerêncio!? O que aconteceu com o negrinho? Vai lá para dentro, socorre o pai, pede ajuda. Deixa que eu ajudo Nerêncio. Pinguancha sai. Então, vosmecê não era tão bom para cuidar da cavalhada? Agora não vai sobrar nada negrinho. Eu vou te levar até um ninho de formiga, onde elas vão dar cabo de vosmecê e aí quando o pai se for essa fazenda e tudo que tem dentro dela vai ser de Neco.

Estancieiro –

Neco – Depois que Nerêncio acordou do tombo ele saiu para catar os cavalo pai, que ficaram solto pelo pasto e se perderam. Nerêncio passou a noite, coitado, correndo atrás dos cavalo, mas ele infelizmente caiu numa ribanceira, deve ter perdido os sentidos, e quando nós encontramo ele de manhã, os animal deve tê dado cabo de Nerêncio, que não tinha sobrado quase nada...

Estancieiro – Não, não pode ser verdade filho.

Neco – Calma, calma meu pai.

Estancieiro – O menino era novo. Neco! O menino, Neco! Não pode ser, nããoo!


Cena IX


Nossa senhora - Acorda meu filho, desperta... que o pior já passou...
Nerêncio- Mas as formigas... elas...elas não me picaram...?
Nossa senhora- Não, eu meio que falei com elas...
Nerêncio - Quem é a senhora, com esse manto tão bonito, e a coroa de rainha?
Nossa senhora - Eu sou só a madrinha de quem não a tem..
Nerêncio - Eu sou pastor, pastor da cavalhada do estancieiro...
Nossa senhora - Eu sei, meu filho também é pastor... mas cuida de ovelhas... que também dão trabalho...
Nerêncio - Ele tem Estancia?
Nossa senhora - Bem grande, e o patrão mora lá em cima e olha por todos nós...
Nerêncio - O menino Neco, o menino Neco extraviou os cavalos... eu preciso ir atrás deles...
Nossa senhora - E vai conseguir encontrar todos...
Nerêncio- Todos, mas como?
Nossa senhora- Com a luz meu filho... entrega uma vela
Nerêncio - Uma vela?
Nossa senhora- A tua vela, doravante sempre que alguém perder algo, te acenderá uma vela...
Nerêncio - Agradecido...

Nossa senhroa- Ouça meu filho, não há nada de errado em servir, mas a dignidade de um ser humano, não tem preço...
Nerêncio - Eu não sei se entendi...
Nossa senhora- Chega de sofrimento...Agora vá... busque a cavalhada...


 Cena final


N - São eles, são eles, encontrei, Tordilho, Trovão, Falcão, Chalaça, Cará Cará...
A luz se apaga
Olga - Que história mais linda...a da tia Tê, Xiquinha.
Pinguancha - Trouxe a vela?

Olga - Tem que estar por aqui...
Pinguancha - acendendo a vela Tomara que funcione.
Olga - Ali ali...
Pinguancha - Encontramos! Venha, vamos contar ao Nerêcio e à tia Tê...


Epílogo


Nossa Senhora e o negrinho parados no panteão.

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