1175- Esconderijos do Tempo (tomo 93).

 Fechei os olhos e acordei em 2009...


Que diáfana alegria, teatro na Casa de Cultura em uma tardinha de domingo, começar a semana inspirada, reflexiva, motivada pela arte. Que bom seria se em todos os domingos fosse assim. Como ir ao cinema. Porém, com nossos artistas, com nossos conhecidos e em um texto dito ali, presencialmente, poucos metros de distância. E que texto!

Mais tarde em casa, tomando um cálice de chardonnay, avaliei o valor daquilo que foi visto. Impagável! Uma pintura, uma obra prima do Máschara. Coerência, dramaturgia física e literária, um presente. Uma trilha sonora elegantíssima, de Massenet à Bach.  Claro que é importante compreender que não é uma peça sobre Mario Quintana, e sim uma peça sobre o que Cléber Lorenzoni quis dizer através da obra de Quintana. Isso nos revela um temperamento Melancólico/Fleumático do diretor.

Lorenzoni e Dulce Jorge escreveram Esconderijos do tempo em 2006, um ano difícil para o Máschara, Centenário de Quintana e com produção de Roger Castro. A Análise Ativa de Stanislavski é visível aos olhos, e surpreende pela coerência, ritmo e limpeza. "Não há barrigas", "não há equívocos". Há é claro por vários motivos, uma simplicidade exagerada na iluminação do espetáculo, não temos luz para teatro em Cruz Alta. Há uma certa tensão que paira sobre as zonas de trabalho. A plateia não percebe, mas esta crítica de teatro está no negócio há muito tempo, então já aprendi a perceber os sinais. Uma cortina que s emeche, um sinal que sai de traz de uma coxia, um sussurro...

Elenco indelével, embora Hoover possa e deva falar mais alto. Por isso é importante praticar teatro sempre, fazer aula, estudar! Em contra ponto, partitura magistral. Um presente corporal!  Talvez se fale de seus exageros, mas em um auditório grande e plano como a Casa de Cultura, as expressões exageradas de Lili foram muito funcionais.

Devi esteve surpreendente. Firme, elegante, inteira. Uma delicadeza que vi em poucas Glorinhas, talvez seja importante trabalhar com calma agora a comicidade que está na entrelinha do texto.

Dulce Jorge deu um show de detalhes em seu monólogo. (Não era um monólogo, mas chamarei assim, pois esteve plena falando da morte). Serquevitio estreou bem no espetáculo, mas precisa estar mais segura em cena. Novello roubou a cena, merece aplausos pela forma como pronunciou o soneto.  Essa é a característica de atores do quilate dos anciãos do Máschara, que são anciãos por serem preparados, por estarem preparados. Cléber Lorenzoni criou Quintana com tantos detalhes arrebatadores, o personagem começa parecendo uma criança, depois um adolescente, um adulto, um adulto de meia idade, um idoso, um ancião, e finalmente um ancião debilitado e tudo de forma muito delicada. 

A participação de Felipe Brandão foi um detalhe a parte, e culminou no agradecimento, que sim, jovens artistas, é parte de um espetáculo. Lembremos, se o espetáculo for ruim, um bom agradecimento pelo menos pode fazer valer o ingresso. Casagrande entra grandioso, potente, talvez pudesse estar mais em cena... 

A iluminação assinada por Fabio Novello e Romeu Waier, foi muito bem executada, sem atrasos, ou aberturas bruscas. A trilha de Lorenzoni, executada por Ben Borges cumpriu e emocionou. 

Preciso claro falar da plástica, detalhes que são a assinatura do grupo, com o olhar severo de Lorenzoni. Veja bem, os tons azuis em Glorinha, cuja saia vai ficando escura no passar do tempo. Os tons magentas em Gouvarinho. O visual de Quintana, até com as meias vermelhas que o poeta apreciava. Greta Garbo em saia Salmão para combinar com Malaquias. A asa de poemas, idealizada pelo artista Fabio Novello, ficou lindíssima. O aquário que lembra uma cascata de folhas, o figurino da menina Lili com meias infantis... Tudo convergindo, e fechando com chave de ouro na miniatura de Quintana, interpretada por Brandão. 

Encerramos com vontade de ter Cena às 7 todos os meses, de irmos ao teatro, de levarmos nossos filhos. 


   O pior: A luta de Lorenzoni tirando suas alianças em cena

   O Melhor: O  retorno de um espetáculo que é sempre uma aula de teatro. 


Esconderijos do Tempo 85º Cena às 7

Clara Devi (***)

Antonia Serquevitio (**)

Laura Hovoer (**)

Romeu Waier (***)

Cleberson Ben Borges (***)

Ellen Faccin (**)

Ana Clara Kraemer (**)

Nicolas Miranda (**)

Felipe Brandão (***)

Carol Guma (**)

Obrigado aos anciãos Dulce Jorge, Cléber Lorenzoni, Renato Casagrande, Fabio Novello e Ricardo Fenner, por nos darem tanto, por nos ensinarem tanto.



Arte é Vida


A Rainha

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