1167 - A Paixão de Cristo - O Julgamento do Messias (tomo I);

                  Pré - estreia 

                 Sentada em uma cadeira na avenida principal, de frente para a conhecida Matriz São José, pude avaliar cada detalhe de um espetáculo que chega a sua sexta versão, sempre com algo novo, com o frescor de algo não contado, com textos que se cruzam, frases tiradas de inúmeras passagens bíblicas ou litúrgicas, contando passagens simbolistas e com grade licença poética. Não é definitivamente a melhor versão feita pelo Máschara, muito embora, a partir de 2029, o Grupo desenvolveu uma fórmula, muito funcional.

               O espetáculo tem como objetivo, fazer refletir, emocionar e dar espaço a novos artistas, além é claro de perpetuar a tradição desse tipo de teatro. Lorenzoni mantém presentes alguns personagens indispensáveis e soma outros novos. Destaque para Junior Lemes, no papel de Tio Labão, com uma presença cênica admirável. O espetáculo é dividido em dois grandes atos: o primeiro voltado para o sermão da montanha e o segundo denominado Julgamento. Envolvi-me do começo ao fim, embora tenha visto alguns deslizes, que vão de detalhes de figurinos à dublagens mal operadas. Os dois Pedros precisam se antenar mais em alguns momentos em que a plateia percebe a inexatidão de suas falas com a movimentação de seus lábios e das palmas de Oriati.

                     Oriati saiu-se muito bem como Herodes, mas precisa buscar maior comunicação com o público. No aspecto caracterização, o visual do elenco que leva assinatura de Renato Casagrande(Stat.I) e Clara Devi(Stat.III), é muito funcional, e enche os olhos, mas há nos calçados um descuido, uma falta de acabamento que peca e muito. 

                      Todos os anos, um dos exercícios humanos mais interessantes que pratico, e que se estende imagino, a muitos que admiram e acompanham o grupo, é controlar a curiosidade em quais atores,  a direção do espetáculo elencará para ocupar as personagens. Poucas foram as surpresas, quando compara-se a outros anos: Carol Guma interpretando Maria de Nazaré, o que faz bem, embora, a atriz ainda seja muito jovem para o papel. Antonia Serquevitio (Stat.IV) elencada para uma Madalena que é espremida entre a cena do julgamento e que a meu ver não deveria ter interpretado a noiva na primeira cena, pois isso confunde a plateia. A repetição de Ricardo Fenner(Stat. III), Fabio Novello (Stat.II), Douglas Maldaner(Stat.IV) e Renato Casagrande (Stat.II) em papeis que já haviam interpretado em edições anteriores. Ninguém tem grande destaque, talvez por que o grande trunfo do ano, sejam as feiticeiras. Essas sim, roubam a cena ao lado de Nicolas Miranda que se destaca como "a tentação", que muitos chamarão de demônio, mas que para mim parece muito mais a "consciência do Cristo".

                            Jesus interpretado pelo pequeno Ravi Dantas e depois por Cléber Lorenzoni, está diferente, mais leve, mais frágil, diferente das versões de 2022 e 2023. Aliás o prelúdio do espetáculo é de muito bom gosto e o público ao meu redor na plateia, estava completamente seduzido pelas peripécias do pequeno Dantas. Uma pena, Lorenzoni ter ausentado do espetáculo a cena de embate entre Jesus e os velhos do templo, o que temos é um salto temporal que nos tira do Getsêmani direto para o que seria a "Fortaleza Antônia" (local do julgamento). O salto temporal é ditado pela narração das "mulheres de vermelho", que supostamente são algum tipo de pranteadeiras. 

                              Destaque para Ana Clara Kraemer e Ellen Faccin, embora todas estejam muito bem, claro, com mais ensaios podem ficar ainda mais intensas. Preciso elogiar, Felipe Brandão, Valentina Lemes, Kleberson Bem Borges, Bibi Prates, Henrique Arigony, Duda Martins, Ana Luísa Kraemer, Rafaelo Fiuza, Mari Valandro e Anderson Botega, toda uma geração jovem que sobe ao palco com uma garra linda. Ainda em cena a energética Marli Guma e o velho colega Stalin Ciotti (que maltratou o cristo).

                                 Destaque também para a caracterização de Romeu Waier e o jogo entre os velhos do templo, Kaifaz (Renato Casagrande), Anaz (Romeu Waier) e Arimatéia (Pedro Loso).

                              Lorenzoni e a direção, optaram por uma grande cena, das bodas de canaã, onde acredita-se tenha ocorrido o inicio da vida pública de Jesus. A nível de roteiro, o grupo optou por uma narrativa na qual o jovem Jesus sente o peso em ter que entregar-se ao destino decidido por seu pai. Jesus deixa de ser o herói para ser um homem que teme o que lhe espera na via dolorosa. Isso pode não agradar aos mais religiosos, pois humaniza-se por demais o Cristo. 

                                Arigony e Devi, ficaram com dois destaques: Samaritana e Prócula, amas conseguem bons resultados e alcançam os propósitos. 

                                 Finalizando diria que houve um bom equilíbrio de interpretações, o que é bom para o elenco e ruim para a direção desse espetáculo. Meus parabéns a todos que ergueram cada caixote, que desenharam cada mascara, que empacotaram cada figurino, pois eles trabalham silenciosamente, ou não, ano após ano, para que a Paixão de Cristo do Máschara seja um verdadeiro ponto de cultura.


O melhor: A garra de Carol Guma vencendo suas próprias barreiras, interpretando com o pé machucado.

O pior: O final muito repentino do espetáculo, ou seja, após a via dolorosa, tudo acontece muito depressa.

                            


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