O Clown pequeno e grande ao mesmo tempo, que busca sempre comida e amor, não sabe ao certo o que está acontecendo no palco, não compreende muitas coisas, mas é curioso o suficiente para tentar entender essas mesmas coisas. Essa curiosidade, que brota dos pequenos gestos, da sutileza, da delicadeza instintiva do ser que se reconhece pequenino perante o universo. Seu mundo é do tamanho daquilo que seu olhar alcança e do que seu íntimo sente. A máschara (não sei escrever essa palavra poderosa sem usar o "h", perdoem-me), que muitas vezes é abstraída, define caminhos, abre sulcos, é a "eureka", é luz na escuridão, é afeto, é sensorialidade. Isso torna difícil entrar em cena pensando em um roteiro formal, imutável, afinal, segundo nossa premissa básica: cada dia é um dia, cada encenação é uma encenação, e o mundo ao nosso redor deve interferir. Ora, como o clown sofrerá essa interferência? E o quanto ele aprenderá com isso? E o quanto nos divertiremos com isso?
Caroline Costa alcança um bom efeito junto ao público infanto-juvenil. O público ri, compreende e mergulha. Na verdade eles embarcam e torcem pelo personagem. Se todos riem, se todos aplaudem, se todos compreendem a historia, por que pode haver algo errado? Existe algum problema? O espetáculo não é bom?
É um trabalho interessante e com ideias ótimas, mas precisa de um mergulho na técnica de clown propriamente dita. É interessante observar grandes clowns da historia do cinema, grandes cômicos, é necessário quebrar uma fina película que ainda impede a atriz de realmente alcançar a proposta da direção. Fernando Tapasse é perspicaz em vários pontos e tem visivelmente uma direção cuidadosa, porém a técnica de Clown precisa de um maior trabalho de pesquisa, para que não exponha a atriz e não pareça apenas uma recreação, ou ainda, como diriam alguns quando depreciam o teatro: palhaçadinha. Percebe-se um cuidado com o cenário, a luz é interessante e se coubesse a mim, o poder de auxiliar em algumas mudanças, mudaria o visual do casaco em cena e o figurino da atriz, como não cabe a mim, apenas torço que se torne a cada dia um trabalho que cumpra o que propõe e ofereça a sensação de dever cumprido à sua equipe.
Cléber Lorenzoni - Crítico Teatral
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