O jeito Máschara de se fazer as coisas...
Hoje vou pedir auxilio aos diretores do Máschara para escrevermos essa critica há oito mãos. Então não assino sozinha o que abaixo escrevo. Até por que desconheço alguns dos entraves e as peculiaridades do grupo.
O teatro é o mesmo em qualquer lugar, mudam as pessoas, muda-se o teor, a intensidade, mudam-se os objetivos secundários, mas o teatro continua o mesmo. Em um bairro qualquer em Maceió, em que haja teatro, fala-se em Stanislavski. Um grupo de teatro de rua em Goiás, também estudará Brecht; a UFSM certamente dará espaço para falar-se em Eugênio Barba. O teatro é um só. Dependerá apenas do que se busca, da quantidade de patrocinadores, da garra de atores que será distinta de acordo com suas culturas, o grau de instrução ou a ótica com a qual se quer trabalhar.
Dito isso, certamente o trabalho do Máschara é parecidíssimo com o "status quo" do teatro de qualquer lugar. Ou seja: com as técnicas adquiridas, as práticas de palco, o enfrentamento do público que você conhece ali, você estará apto a ser contratado por qualquer companhia. Poderá fazer teste em qualquer lugar.
Mas em 2000 começou a ser construída mutuamente uma cartilha, um formato de se fazer as coisas nessa companhia. Com dedicação, entrega, busca pela perfeição, respeito ao público. Somou-se aí talentos, estudo, sacrifícios. Tudo em prol do teatrão. Com esse formato o Máschara tornou-se entre 2003/2006, uma das Cias. teatrais mais importantes e respeitadas do rio grande do sul. Tournês em Porto Alegre, troféu Cultura Gaúcha, respeito da classe artística, convites para as mais variádas ações na área. Cléber Lorenzoni ainda somou aí performances, danças, criação da ESMATE, comissões de frente de agremiações carnavalescas. Hoje o Máschara é um nome. Uma marca. Que ultrapassa fronteiras e está acima de picuinhas, egoísmos, egocentrismos, Quando há uma apresentação qualquer, não é fulano ou beltrano que está se apresentando. Quem está se apresentando é a marca. E essa mesma marca é que tem poder de abrir espaços, de dar suporte, de criar opções para que cada um brilhe ao sol.
É difícil? É impossível!
Por que? Por que as vezes, em situações assim, perde-se a personalidade própria em prol de algo maior. As vezes é preciso deixar amizades para trás, as vezes magoa-se, as vezes a necessária rapidez do trabalho passa por cima de pessoas, as vezes você se sente pequeno em meio a um turbilhão de obrigações. E no mundo atual ninguém quer ser obrigado a nada. Para completar há o pouco dinheiro que se ganha fazendo teatro. A humilhante situação de tantos atores, que entregam-se de corpo e alma, mas ao voltar para casa tem poucas opções de conforto. Difícil manter-se assim, dedicado ao teatro. No ar há uma velada competição, todos querem ser aplaudidos, reverenciados, amados. Afinal de contas se não há dinheiro, que se anime o ego. Forma-se então a fogueira das vaidades: Todos querem saber, saber mais que seu colega. Saber é poder, só não sabiam que aquele que propaga sabedoria aos quatro ventos passa por tolo mesmo sem querer.
Como manter essa estrutura funcionando com tantos estopins? Nunca saberemos. Mas a cartilha segue afiada, e pessoas sobem e descem a todo instante. Será que perceberam que dentre tudo o que usam para tentar escalar, o que marca unicamente e fica é o trabalho? Esse sim, esse é reflexo de capacidade e talento. Trabalho e mais trabalho.
Cada vez que alguém precisa desistir do teatro para seguir o dito sistema, cada vez que alguém se curva, sente-se fraco e corre para outro lugar, baixamos a cabeça, sentimos no fundo do peito. Será que não deveríamos fazer o mesmo? Mas seguimos, seguimos por nós e por todos aqueles que não conseguiram lutar, por todos aqueles que foram vencidos. Mas a arte precisa seguir. Se fossemos correr a cada empecilho, o teatro não teria vencido seus mais de três mil anos.
Quando o diretor escolheu Infância Roubada, precisava de um elenco capaz. Precisava de bons atores. Uma boa "equipe". Alguns arrependimentos? Alessandra Souza substituiu Raquel Arigony. Afinal nos últimos tempos essa atriz vem se tornando muito mais madura e capaz. Mas ela também se formou na cartilha antiga e está ali por que a acham capaz de fazer grandes coisas, de segurar as pontas, de erguer a "lona do circo". Souza está ali para ser braço direito. É isso que se espera dela. Por isso talvez Cléber Lorenzoni exija tanto e espere tanto da colega. O trabalho da atriz em cena tem crescido muito, no entanto não se pode satisfazer-se com o que temos, é necessário sempre buscarmos mais. Clara Devi foi convidada a ir nas viagens pois é dedicada, capacitada, um ótimo exemplo. Laura Heger foi convidada para o elenco por seu trabalho riquíssimo em O Hipocondríaco, alí ela mostrou sua dedicação e entrega. Continue assim! Eliane Aléssio está na equipe pela simpatia prazerosa que tê-la como colega de cena. Eliane é o tipo de atriz que parece entender o que é ter um diretor. E não falo sobre apagar-se ou achar que o diretor é um Deus que sabe tudo. Não, ao contrário, o ator pode certamente questionar, contrariar. Mas precisa saber que ambos são funcionários. O ator executa o trabalho de dar vida e organicidade ao que o diretor pede e propõe. A função do diretor é observar, trabalhar dentro de si a sensibilidade para compreender aquele ator e poder tirar e exigir o melhor dele. Eliane Aléssio ao lado de Kauane Silva são as atrizes que mais cresceram em 2019, por uma simples premissa, deixaram-se ser dirigidas!
Stalin Ciotti é um talento nato, ele abraça personagens, se bem que não abraçou muito o "pequenote", mas são coisas, há personagens que amamos, há personagens que fazemos. Laura Hoover é daquelas atrizes difíceis pois tem dentro de si um furacão. Ela é forte, geniosa, intensa. Mas precisa ter muito cuidado, mares bravios assustam e muitas vezes afastam. Seu olhar tem luz em cena, seu gesto tem fogo, mas precisa transformar tudo isso em TRABALHO (partitura, jogo cênico, criatividade, interação, triangulação) .
Kauane Silva esparramou-se na boneca, aliás um papel cobiçado. Cada gesto funciona, cada olhar. Renato Casagrande e Cléber Lorenzoni são os alicerces principais, principalmente por terem essa capacidade de fazer quase tudo sobre o palco. Cléber Lorenzoni faz um dos papeis mais simples do espetáculo. Tirando a novidade de Cesar ter uma cena suicida, de resto é um dos seus papeis mais simples. Mas Cléber o cumpre com dignidade e profissionalismo. Renato submete-se à algo novo. Tânia está ótima, mas sinto informar ao ator que ele é sim um dos diretores da Cia. Isso muda tudo, muda a resposta dos colegas, muda seu valor no palco, muda suas obrigações.
Felipe Padilha cumpre sua função. Mas deve estudar muito, correr atrás do teatro. Abrir os olhos, Observar mais. Aprender com os "grandes".
Maria Antonia Silveira Netto e Henrique Lanes estão ali para aprender. Cléber Lorenzoni não poderia tê-los convidado por seu talento em sonoplastia ou técnica em operação de som, afinal nunca foram técnicos em sonoplastia de outro espetáculo. Estão ali para aprender. E aconselho-os a estudar sempre e nas próximas apresentações intercalarem. Para que ambos testem suas capacidades.
O pior: Não havia um banner, não havia um indicador da grandeza da marca, sem ser o próprio trabalho. Em uma apresentação falta estojo de costura, em outra canos, em outra ferros, em outra adereços. Quem são os responsáveis? A resposta é muito clara: Os braços direitos da Cia. Uma dica: Tenham vocês também seus braços direitos. Ninguém é tão superior que não precise de ajuda, de distribuição de tarefas. Renato Casagrande pode dividir funções entre Kauane e Clara. Alessandra Souza pode dividir funções entre Stalin e Laura. Isso se chama "equipe", onde eu não fui clara? Quanto aos novos, ouçam, talento não segura ninguém no máschara. O que segura é trabalho. Gente amontoada no palacinho mexendo em celular ou jogando pode muito bem ficar em casa.
O melhor: A disponibilidade de Eliane Aléssio e Alessandra Souza em mudar uma cena poucos minutos antes de entrar no palco. A sensibilidade de Kauane Silva em atender um pedido da direção para que o publico visse melhor sua personagem. A sensibilidade de Clara Devi em dar o lugar à Felipe Padilha na vã, a coragem de Stalin Ciotti e Laura Heger em receberem mudanças para a cena também pouco antes de entrar em cena.
Renato Casagrande (*) Porém muito bem no palco
Alessandra Souza (*) Porém muito bem no palco
Satlin Ciotti (**)
Eliane Aléssio(***)
Kauane Silva (**)
Laura Heger (**)
Clara Devi (***)
Felipe Padilha (**)
Laura Hoover (**)
Maria Antonia Silveira Netto (**)
Rique Artêmi (**)
Arte é Vida
A Rainha
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