Entrevista Cléber Lorenzoni a pedido do univeristario Rudimar Cardias
Pauta: “Descaso com a Casa de Cultura Justino
Martins de Cruz Alta”
1.
Qual a importância da Casa de
Cultura Justino Martins para a comunidade de Cruz Alta? ´
Como cidadão eu digo que um prédio histórico, uma lugar para a Cultura,
um ambiente que deve estar lá e sua visita ser incentivada por professores,
afinal tínhamos lá espaço para aulas de dança e teatro, sala de xadrez,
biblioteca, palco para eventos, espetáculos, tínhamos inclusive dois grandes
pianos, para aulas de musica, etc... Sem falar no memorial a grandes artistas
que também está lá. Um prédio que conta uma parte da historia do município.
Algumas pessoas não frequentavam a Casa de Cultura porque a consideravam um
espaço de elite. Nós do Grupo Máschara queríamos trazer a comunidade para
dentro daquele espaço e estávamos conseguindo bons frutos. Tenho que mencionar
também, que nós só continuamos por que fomos muito persistentes, um grupo mais
fraco, menos preparado e organizado teria entregado as pontas. Cruz Alta, uma
cidade com sua importância histórica, não poderia simplesmente dar as costas
para sua própria cultura. Em Cruz Alta resta a coxilha e o carnaval. Mas há
toda uma gama de ações que estavam engatinhando e podiam frutificar muito. A
função de um bom secretário de cultura é criar politicas públicas que oportunizem
os artistas da cidade, as ações culturais. Se pararmos para dividir cultura e
arte, aí a cultura continua acontecendo, logicamente, os corais, as ações religiosas,
a capoeira, as escolas de dança, os grafiteiros, tudo isso é cultura e continua.
Mas a arte é mais especifica e mais frágil. O Artista precisa quase sepre de um
local próprio. Onde penduro um quadro de um grande artista cruz-altense? Na
sala de minha casa?
2. A
Casa de Cultura era utilizada como forma de promover a cultura aqui no
município. Desde que a mesma foi interditada, como você considera a perca que
foi para os cruz-altenses? Uma vez que a cultura- teatro- aqui não tem tanta
visibilidade.
Acredito piamente que as
coisas começam a acontecer quando as pessoas empreendem, eu sempre fui
empreendedor por que do contrário o teatro já teria acabado. Criamos então em
2005 o Cena às 7, e aos poucos as pessoas foram se acostumando, chegando, em
2012 fazíamos teatro todo mês na Casa de Cultura, e o público sempre se fazia
presente. Quando perdemos a Casa de Cultura, esse hábito gostoso de ir ao
teatro que estava sendo criado foi caindo por terra e soma-se aí a aproximação
das pessoas à nossa Casa de Cultura. Nada tem muita visibilidade até que se comesse
a fazer, até que se bata na mesma tecla, mas agora com tudo parado, realmente
fica difícil.
3. Você
considera que é um descaso da parte do poder publico referente a esse assunto?
Não posso acusar ninguém de nada, mas é
vergonhoso que a reforma esteja parada em seu terceiro ano. O Ginásio da cidade
foi reformado às pressas, por que? Por que o esporte é mais importante que a
cultura? Por que o secretario de esportes é mais capaz que o de cultura? São
perguntas que ficam. Há tanta historia mal contada que já estamos nos
acostumando com o fim da casa de cultura.
4. Você
como diretor do grupo teatral, e também como cidadão cruz-altense, procurou
informar-se ou pedir explicações do poder publico sobre a Casa de Cultura? Se
sim, o que o mesmo argumenta para você?
Procuramos
muitas vezes, os meios de comunicação não insistiram muito talvez por receio,
em cidade pequena todos tem medo de se queimar com políticos. Mas o fato é que
as historias que nos chegam são sempre confusas, mal contadas. O que nos foi
dito é que uma empresa saltou fora e agora seria necessário fazer nova
licitação, contratar outra empresa, no entanto uma parte foi paga para a
primeira, então não há verba para terminar... Algo assim.
5. Prestes
há completar mil dias sem Casa de Cultura, é possível somar por cima quantos
espetáculos de teatro o grupo deixou de fazer?
Bom o Cena às 7 era mensal, sempre no segundo sábado e domingo do mês. Deixamos
de fazer 31 edições do Cena às 7 na Casa de Cultura, ou seja muito teatro.
Pessoas nos ofereceram outros espaços, o trabalho continuou, mas aquele clima
legal de teatro na nossa Casa de Cultura, parou, e isso sem falar em toda uma
gama de ações na área de cultura que nosso município foi perdendo, inclusive o
Dança Cruz Alta.
6.
Você acredita que ainda vai demorar
para o poder publico tomar alguma atitude sobre esse assunto?
Não sei dizer, mas sei que isso não é o
mais importante para eles. E o pior é reconhecer que nosso povo está carente de
tanta coisa, que fica difícil levantar uma bandeira declarando a importância da
cultura, afinal a saúde está carente, a educação...
7.
.Na sua opinião quando a Casa de
Cultura voltar a ter seu funcionamento normal, o que a comunidade de Cruz Alta
ganha com isso? O que a cultura ganha?
Ganha
dignidade, respeito para com uma cidade que está sempre perdendo tantas coisas.
A oportunidade de grandes Cias. virem se
apresentar em Cruz Alta. Um lugar próprio para ações culturais, dança, musica,
aulas de musica, capoeira, balé, até cinema já assisti na Casa de Cultura. As
vezes tenho a sensação de que estamos virando uma cidade fantasma, daquelas de
faroeste, onde não se pode falar, e as praças e reformas soltam tanto pó e
areia e terra, que ajuda nesse clima de faroeste. Todo mundo indo embora em
busca de emprego, em busca de vida melhor... O que será de nossa Cruz Alta?
Achei essa entrevista interessantíssima, pena os meios de comunicação não tomarem parte de algum lado desse "embate", mas creio amigos teatreiros que embora sem casa da cultura o teatro prevalece vivo em nossa cidade, em menor escala é claro, mas ainda o nosso queridíssimo grupo maschara se esforça para proporcionar ao cidadãos de Cruz Alta um pouco de arte (é de ótima qualidade) mesmo que os muros no percurso sejam de grandes alturas...
ResponderExcluirDesejo a vós vida longa e que o teatro sempre prevaleça, afinal não queremos ficar a margem da ignorância e desprovidos de cultura, logo arte.
Abraços mais que fraternais...
P.W.