A Serpente

O ninho das Serpentes...

                      Não se sabe, nem nunca saberemos o que realmente Nelson falava em seus textos, o que realmente estava nas entre linhas. Críticos, escritores, analistas, psicólogos, filósofos, literatos, muitos opinam, mas realmente ninguém sabe o que Nelson queria afetar. O que temos são os textos incríveis, cortantes, afiados. E a perspicácia de cada elenco e diretor que monta a sua maneira. 
                        A ultima montagem que tive o prazer de assistir foi a do Grupo Máschara nos dias 13 e 14 de julho, um trabalho marcante, cheio de simbologia e voltado para as questões da vida em casal. Algo que já está presente no texto, mas que fica evidenciado com a concepção de Cléber Lorenzoni. O visual indica bodas e algo como as decorações de quartos de motel. O espetáculo é em arena, o público está dentro do quarto, que bem na verdade nos confundo. É apenas um quarto ou são dois, ou ainda, oi dois quartos juntos? Exemplo, quando o espetáculo começa estamos no quarto de Ligia (interpretada pela dramatica Alessandra Souza), quando o espetáculo acaba estamos no quarto de Guida, (belissimamente interpretada por Tatiana Quadros). O difícil para o público é compreender as mudanças de necessária compreensão. Paulo vem ao quarto de Ligia na terceira cena, bem como a esposa viera pouco antes. Quando Guida sai do quarto levando a colcha branca "impura" pela noite de amor entre marido e cunhada, na verdade está entrando no banheiro do quarto da irmã. Ou será que quando paulo veio da janela para a cena em que tira o sapato, fomos para o quarto da irmã naus velha? Quando Guida está escovando os cabelos, dilacerada pela dúvida e pelo ciúme, estamos na verdade no quarto de Ligia. Poderíamos a partir daí dizer que toda a historia se passa no quarto da irmã mais nova. Isto estaria certo? 
                               A trama ocorre em onze dias mais ou menos, e esses dias se passam provavelmente após a cena da escovada de cabelo de Guida. A curva é ótima, vem em grande crescente  e culmina com a queda razoavelmente bem feita na janela. O epílogo sublinha a concepção da vida intima de casais quando Guida e Ligia adentram o palco de véus e buques nas mãos. 
                                  O Décio de Renato Casagrande foi o mais interessante que já tive o prazer de assistir, pois os Décios e Paulos em a Serpente são sempre interpretados apenas com postura de homens grosseiros ou ríspidos. Renato podia apenas ter se contido mais nos seus dramas quando da cena no bar. A cena de embate entre Décio e Paulo, cresceu muito e consegue acrescentar muita força ao espetáculo.  Na verdade a cena ainda pode crescer, no entanto, não pode tirar o peso do embate velado entre as duas irmãs.
Tatiana Quadros sobe ao palco com quatro para cinco meses de gravidez, e contracena muito bem. Sua Guida vai se encaminhando para um estagio de neurose que beira a loucura. E a atriz precisa tomar cuidado para não errar a medida.
                                   Alessandra Souza carrega no trágico, mas as vezes resvala no drama, enquanto precisa de mais instinto, mais viscerabilidade. As cenas estão ótimas, e na cena final convence, embora possa dedicar-se mas a um corpo ligado.  O espetáculo tem luz bem desenhada, operada por Diego Pedroso, e  pontua elegantemente o espetáculo. A trilha de Cléber Lorenzoni traz Enio Morricone, um arrojo, embora o grande trunfo, a meu ver, seja ouvir Phillip Glass na cena em que Guida é jogada pela janela.
                                  Foi a 61ª Edição do Cena às 7, e o público era pequeno, não sei se todos apreciaram, Nelson ainda é um tanto chocante para alguns, principalmente em uma cidade pequena e no interior. Mas o Máschara cumpriu sua função primordial, levar estilos diferentes ao público de sua cidade. 
                                               O teatro vai bem, não para nunca, o Máschara agora abre uma escola para continuar seu intento, teatro para todos. E em meio a tanto esforço a pergunta que fica é quem são as serpentes...
                                        
Tudo pessoal, teatro é puramente pessoal...

Alessandra Souza C +
Renato Casagrande  + C
Tatiana Quadros  + C
Cléber Lorenzoni + C
Diego pedroso + C
Evaldo Goulart + +
Ricardo Fenner + +
Fernanda Peres + C
Rui Descovi + I



                     A Rainha
                                     

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