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Grupo Teatral Máschara
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segunda-feira, 10 de novembro de 2025
1299/1300/1301/O Incidente (tomos 97/98/99)
TRES INCIDENTES EM UM SÓ DIA...
Cada um com sua verdade, já que o teatro é assim, único. Quem viu, viu, quem não viu, sentimos muito... Constrói-se uma apresentação no camarim, entre uma conversa e outra, entre uma intimidade e outra dos atores. Um dia tenso nos camarins gera um tipo de espetáculo, um dia leve nos camarins, gera outro clima. Pois o ator sente, sofre influências do mundo ao seu redor. No camarim nascem amizades, no camarim há a troca. Empresta-se um cajal, um rímel. No camarim um ator limpa a roupa de outro. No camarim oferece-se água, chá, suco... No camarim contam-se tristezas, trocam-se historias de namoros e flertes. No camarim nascem alianças que podem durar quarenta minutos de encenação, ou uma vida inteira. Camarins são lugares maravilhosos, com seus lanchinhos gostosos, com suas mil lâmpadas que iluminam a maquiagem dos atores, ou com os entraves de pessoas complicadas que acabam por criar climões em dias de espetáculos.
O palco é um lugar meio frio, vazio, silencioso. Para preenchê-lo, são necessárias vivencias. Um ator, diz o que vai entro dele. Diz um ator conhecido, que somente o ator "sabe o peso de uma lágrima", do que vem com ela... As luzes acenderam-se lindíssimas e precisas sobre sete corpos que transcenderam, para falar de Erico, falar do Brasil, e para falar de si mesmos. Atores bons sabem que no palco estão falando suas verdades, suas dores, suas questões. Não é centro espírita, os mortos não existiram de verdade. Então o ódio de Cícero é de Kléber Lorenzoni, a mágoa de Menandro é de Renato Casagrande. A revolta é de Kleberson Ben e as reclamações sobre ingratidão são de Carol Guma. E para os atores, descobrirem se estão mergulhados realmente nas cenas, convinha que eles questionassem o que eles pensam sobre a morte. Sobre a igreja, sobre a ditadura, sobre a política. A transformação causada por um espetáculo, começa pelo palco.
Cada cena de O Incidente, deflagra interrelações: o olhar de Dona Quitéria para com a prostituta, de Menandro para com Cícero e Barcelona, de João para com Cícero e assim por diante. Erotildes nunca imaginara que seria defendida por José Ruiz. Barcelona nunca imaginara que Cícero estaria certo... Dona Quitéria veio até a cidade, o coreto, para acompanhar os outros mortos, nunca imaginou que iria se dar conta do quanto suas filhas eram "tratantes"...
O Incidente vai revelando camadas dentro de camadas. Será que os interpretes de O Incidente entendem por exemplo que estão falando de uma mulher que matou o marido por que era maltratada por ele. De um homem que não queria se matar, mas se machucar, para parar de sentir a dor...
É necessário que atores olhem todos os dias para dentro de si.
Falemos agora de comunicação. De como cada ator se comunica com o público. De como cada um trabalha em prol de ser amado e respeitado pelas plateias. Atores comuns passam pelo palco e um dia são esquecidos, por novas safras de atores... Mas atores incríveis, nunca mais são esquecidos. Não apenas por que são bons em cena, mas por que compreendem que quem contrata um espetáculo, um artista, está na verdade comprando uma sensação. Um tipo de prazer...
Incidente em Antares teve três inserções muito diferentes, distintas. Minha preferida foi a da noite. Pois foi quando mais longe chegou a disponibilidade estética. E estética é o maior sentido da arte.
Parabéns às estéticas de cena. Parabéns a jovem atriz Ana Clara Kraemer que precisa ganhar três estrelas pelo lindo trabalho como técnica de luz. Serquevitio esteve muito bem, mas a noite sua cena foi muito mais visceral e por isso merece também três estrelas. Douglas Maldaner pode estar mais atento e Kleberson Ben deve solidificar suas bases, para criar recursos para cenas que pedem mais intensidade emocional.
Junior Lemes e Carol Guma possuem uma postura madura, muito interessante, mas podem lapidar suas interpretações. Didi Flores é um jovem que parece muito esforçado, não pode esmorecer na caminhada. Seu visual esteve muito interessante nesse dia.
A trilha de Roberta Teixeira durante as inserções do dia funcionaram, mas a noite algo prejudicou a precisão da operação.
O melhor, que penso que é impossível não mencionar, é o trabalho dos anciãos. Atores de carreira que preenchem o palco com tranquilidade e maestria. Parabéns Lorenzoni, Fenner e Casagrande.
O Incidente
Roteiro e Direção Kléber Lorenzoni
Elenco: Kléber Lorenzoni, Carol Guma (*)(**)(**), Renato Casagrande, Antonia Serquevitio (**)(**)(***), Clara Devi (**)(**)(**), Douglas MAldaner (**), Junior Lemes (**), Didi Flores (*8) (***), Ricardo Fenner, Kleberson Ben (**)(**)(*),
Contrarregragem: Ana Clara Kraemer (***)(**)(***) , Roberta Teixeira (**)(***)(*)
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
1296-Rei Lixo (tomo 03)
Sempre que podem, nos últimos quatrocentos anos, estudiosos, ensaístas, literatos, ou mesmo artistas, tentam reinventar Shakespeare. Encontrar nessa cascata inesgotável de vida, de pensamento, de filosofia humana, um "algo" ainda não percebido. Stendhal, Samuel Johnson e até, por que não dizer, Gordon Craig. Todos eles, e muitos outros, viram facetas, detalhes, nuances novas. Ontem, após assistir Rei Lear mais uma vez, eu tive uma epifania. O Máschara, ou o Kléber, ou o Grupo, enfim, encontraram uma nova visão bastante simples e óbvia, mas que muitos ainda não enxergaram: Shakespeare é tão humano, que é simples. Mas não é o humano de forma supérflua, ao contrário, ele é profundo, corajoso. Shakespeare está lá, onde poucos ousam penetrar. No pensar!!!
Sobre o palco, sete criaturas, sete dons, sete vidas. Um número importante e significativo, regido por um Lear pantocrator. Ao seu redor: Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Esses são os sete corpos celestes, vistos a olho nu pelo homem. Os sete corpos que Lear rege, enxerga de seu trono. Respectivamente esses signos celestes representam a essência de Edgar, os instintos de Cordélia, a energia objetiva de Edmundo, a comunicação do Bobo, a expansão ambiciosa de Regana, a paixão de Goneril, e a responsabilidade de Gloster. Lear tem a percepção do Bem e do Mal, mas se equivoca com a postura dos que o servem. Por isso decide sair desse mundo, decide ficar na tempestade, percebe que o mundo não é mais um bom lugar para viver.
Douglas Maldaner vem mostrando um belo crescimento e desenvolvimento em seu trabalho de ator, mas pode falar mais alto, não baixar seus volumes ao final de cenas. Qual será a postura, ou a energia de um cavalo quando se sente ecoado, como Edgar? Eu enquanto admiradora do Máschara a muitos anos, torço que esse jovem um dia se torne um dos Anciãos, ensinando o que aprendeu, às próximas gerações.
Dos bufos, com seus corpos deformados ou "excêntricos", expondo as deformidades da alma humana, destacam-se Carol Guma e Ana Costa. Essa ultima com uma criação sofisticada e delicada, quando perfiladas, as três filhas de Lear nos dão o colorido exato, da colcha de retalhos que a direção do espetáculo pintou.
O bobo e Tom, interagiram de forma quase poética com Lear, formando belíssimas figuras plásticas pelo palco. Uma pena o cajado do ancião ter rolado pelo precipício em frente ao palco, muito embora, cair do palco dê à cena o clima exato de finitude de poder. A iluminação de Ana Clara Kraemer coroou o palco, enquanto a maldade de Edmundo foi muito bem interpretada por Renato Casagrande.
Rei Lixo vem crescendo, e seu elenco aprece descobrir a cada nova inserção do espetáculo, novos olhares sobre o teatro do bardo. Acredito que Douglas Maldaner ainda possa descobrir novas formas de apresentar a cena de encontro entre pai e filho, lembrando sempre que se trata do protagonista do espetáculo.
Uma das principais características do Máschara e percebo isso ano a ano, é a forma como ele constrói artistas, e isso se dá de uma forma muito simples e até prática. A direção do Grupo, formada por uma equipe de diretores-anciãos, presentes ou distantes, coloca jovens iniciantes (membros externos) entre elencos de peso, com preparação intensa ou anos de carreira, e de uma forma quase orgânica, esses atores vão absorvendo meio que sem perceber, as capacidades do todo. Assim, Ana Costa e Junior Lemes, por exemplo, não deixam nada a desejar para uma narrativa que reflete unidade e equilíbrio de atuações. Claro que o tempo de teatro pesa, claro que possivelmente as capacidades já estejam intrínsecas, e o Máschara apenas as desperta. Assim sendo, o Duque primata e a Princesa Galinácea, preenchem o palco como atores de alto escalão. Merecendo a meu ver destaques no festival.
A cena final do espetáculo toca pela pompa e circunstancia, tão típicas do jeito de fazer teatro do Máschara. Um obra única, que deve ser revisitada sempre, como uma aula de pronuncia de Shakespeare.
Rei Lixo- Festival Rosário em Cena
Direção e texto- Kléber Lorenzoni
Elenco:
Kléber Lorenzoni,
Renato Casagrande
Douglas Maldaner (*)
Antonia Serquevitio (**)
Junior Lemes (***)
Ana Costa (***)
Kleberson Ben (*)
Carol Guma (**)
Contra Regragem
Ana Kraemer (**)
Roberta Teixeira (**)
DidY Flores (**)
Arte é Vida










