Não da para exigir reações...ou da para exigir as reações...?
Quando
falamos em adaptação, muitas vezes pensamos o seguinte: determinada pessoa
pegou um texto, foi extirpando trechos e o que sobrou, ou o que conseguiu
manter, jogou sobre o palco. Não, definitivamente esta é uma visão equivocada
do trabalho de adaptação de um dramaturgo. Sim, chamo-o assim, pois o adaptador
precisa ter um extensa noção de carpintaria teatral, boas noções de direção,
compreensão de curva dramática, e etc...
Na adaptação
feita por Ivo Bender a partir de
Eurípides, o autor pretendia falar de algo, algo que não é o que o Máschara
pretende falar. Em Bender faz-se alusão a grande enchente de 1941, à colônia
alemã. Cléber mantém parte disso, no entanto, traz ao pico o tema do complexo e
para isso, faz uso de cenas bastante fortes.
Lorenzoni, influenciado pelo contemporâneo a sua volta, faz a obra caminhar meio como Eugene O’Neill em sua
Mourning Becomes Electra. Vê-se nessa
histérica Electra um olhar froidiano que felizmente não há nas tragédias
gregas, logicamente. O tema universal continua presente, a justiça, no entanto
o olhar sobre a vingança mudou. Os gregos de uma Atenas repleta de atos tão
bárbaros, aceitavam a vingança, o que acrescia à Electra uma certa razão.
O’Neill segue os passos de Eurípides, distanciando-se da religiosidade e da
força do divino, enquanto Lorenzoni e Bender seguem pelo olhar de Sófocles. A
grandeza é enfraquecida por O’Neill em sua Lavínia, já que ali a heroína não é
mais filha de um rei. Em Sófocles todas as personagens pertencem a uma grande
dinastia famosa. Agamêmnon é o rei, sua esposa Clitemnestra é a rainha, e os
príncipes de direito Electra e Orestes. Isso lhes concede grandeza, nobreza de
sentimentos inata e princípios morais altíssimos. Em O’Neill, o general Mannon é prefeito, em
Bender e Lorenzoni, um fazendeiro. A grandeza aqui está na plástica, no porte
de cada composição cênica. Os medos impostos pela religião, tem agora, em meio
ao mundo moderno, a força do biológico. “Um dia verás que somos iguais Ereda”.
Mãe e filha, genética e sangue.
Em meio há
tantos olhares, sinto falta de compreender perfeitamente qual é o olhar do
Máschara. Há uma rixa interna que me faz ver muito forte o texto de Bender. Se
essa for a opção não há problemas, mas é preciso assumi-la. O que de certa
forma, já não é mais o caso, principalmente por que agora temos três cenas
totalmente diferentes da proposta do escritor porto alegrense. Ora, Bender escreveu um texto
realista/regionalista. O Máschara conceituou-o de forma expressionista.
E esse
expressionismo é um logradouro pouco visitado pela população de uma cidade onde
o costume de ir ao teatro é algo novo. Nessa tragédia não há o descanso cômico
entre as cenas como em tantas outras. Pelo contrário, a tenção e de certa forma
o terror, é buscado continuamente. Sendo assim a plateia não pode relaxar suas
tenções. Há portanto duas saídas, manter-se tenso até o final, ou reagir a sua
maneira no decorrer da ação. Claro que não se dará esse tipo de reação por
exemplo em uma apresentação de musica erudita. E por que? Ora, por que no
teatro o homem entra em contato com a multifacetada variante de emoções. O
teatro possui uma força poderosa, perigosa. O mágico da noite de domingo é que
esse poder e esse perigo mostrou-se de forma assustadora também para os atores.
Por que mesmo
estabeleceu-se a noção de “quarta parede”? Não serviria ela de proteção? Atores
inflamados pelo ódio, colocam em risco o seu trabalho e o trabalho dos colegas.
Por exemplo quando ouvi a frase: “Quem
mata o amante, não sede nem mesmo ante os próprios filhos”. Que amante? Quem matou o amante? Isso sem
falar nos “vocês” e “tus” tão misturados.
O ator é
um profissional paradoxal. Ele inicia a manhã dizendo que faz teatro por amor,
por volta das dez da manhã precisa que lhe chamem a atenção ou não produzirá o
esperado. No começo da tarde diz que está ali por si mesmo e que não depende do
público, já por volta das cinco reclama que os ingressos não foram vendidos e
teme a ausência da plateia. Às sete da noite desentende-se com o colega que lhe
da um conselho para melhorar a cena e por volta das nove curva-se humildemente
sob o aplauso da plateia. Agradece feliz e parece amar há todos. Ousa dizer ao diretor na saída que a cena é
sua e que prefere fazer a seu modo e indo para casa mais tarde percebe que não
tem um único tostão no bolso.
Humildade
senhores, humildade, pois por artistas, serão a vida inteira dependentes dos
outros. Leitura e conhecimento para que não sejam nunca dominados, para que sua
arte seja alicerçada em uma chancela de sabedoria.
Arte é Vida
A Rainha
Alessandra Souza (**)
Raquel Prates (***)
Renato Casagrande (***)
Evaldo Goulart (**)
Gabriel Giacomini (***)
Douglas Maldaner (**)
Cléber Lorenzoni (***)
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